Sidhartha Gautama

"Nossa existência é transitória como as nuvens do outono. Observar o nascimento e a morte dos seres é como olhar os momentos da dança. A duração da vida é como o brilho de um relâmpago no céu, tal como uma torrente que se precipita montanha abaixo."
 Siddhartha Gautama 



"Não se apresse em acreditar em nada, mesmo se estiver escrito nas escrituras sagradas.
 Não se apresse em acreditar em nada só porque um professor famoso  disse.
 Não acredite em nada apenas porque a maioria concordou que é a verdade. 
Não acredite em mim.
Você deve  através de sua própria experiência  aceitar ou rejeitar algo.
"Siddartha Gautama



A paz vem de dentro de ti próprio, não a procures a tua volta.

A verdadeira amizade humana tem como base o afeto humano, não importa qual seja nossa posição. Portanto, quanto mais nos interessarmos pelo bem estar e pelos direitos dos outros, mais seremos um amigo autêntico. Quanto mais formos abertos e sinceros, mais benefícios acabaremos recebendo. Quem se esquece dos outros, ou não se importa com eles, acaba agindo em prejuízo próprio.

A vida não é uma pergunta a ser respondida. É um mistério a ser vivido.

Aquele que age com discernimento e se esforça pacientemente obtém riquezas. Com a retidão, alcança fama e praticando doações cria laços de amizade.

Começamos a morrer no momento em que nascemos.

Determinação, coragem e autoconfiança são fatores decisivos para o sucesso.

Não importa quais sejam os obstáculos e as dificuldades. Se estamos possuídos de uma inabalável determinação, conseguiremos superá-los.

Independentemente das circunstâncias, devemos ser sempre humildes, recatados e despidos de orgulho.

Não creia em coisa alguma com base na autoridade de mestres e sacerdotes; não creia em coisa alguma pelo fato de lhe mostrarem o testemunho escrito de algum sábio antigo. Aquilo, porém, que se enquadrar na sua razão e depois de minucioso estudo for aceito pela sua inteligência, conduzindo ao seu próprio bem e ao de todas as outras coisas vivas, a isso aceite como verdade e por isso paute sua conduta.

Não busco recompensa alguma, nem mesmo renascer num paraíso; procuro porém, o bem dos homens, procuro reconduzir os que saíram do caminho, alumiar os que vivem nas trevas e no erro, banir do mundo toda pena e sofrimento.

O verdadeiro culto não consiste em oferecer incenso, flores ou outras coisas materiais, mas no esforço por seguir o caminho daquele a quem se reverencia.

O louco que reconhece a sua loucura possui algo de prudente; porém, o louco que se presume sábio, esse está realmente louco.

O que somos hoje e o que seremos amanhã depende de nossos pensamentos. Se procedo mal, sofro as conseqüências, se procedo bem, eu mesmo me purifico.

Os homens que perdem a saúde para juntar dinheiro e depois perdem o dinheiro para recuperar a saúde; Por pensarem ansiosamente no futuro, esquecem o presente, de tal forma que acabam por nem viver no presente nem no futuro; Vivem como se nunca fossem morrer e morrem como se nunca tivessem vivido.


Somos o que pensamos. Tudo o que somos surge com nossos pensamentos. Com nossos pensamentos, fazemos o nosso mundo.


Buda (Sidarta Gautama)
(563-368 a.C.), Líder espiritual
"Sidhartha Gautama" foi um príncipe que nasceu por volta do século quinto ou sexto antes de Cristo e viveu por volta de 563 a.C a 483 a.C, em Kapilavastu, reino de Sákya, que compreende hoje em dia parte da fronteira do Nepal com a Índia.

Filho do rei Sudhodhana, era por obrigação herdeiro do trono paterno. Sete dias após o seu nascimento sua mãe morreu e passou a ser criado pela tia Mahaprajapati Gautami, irmã de sua mãe.

Recebeu após o seu nascimento a visita do ermitão e vidente Asita, que percebendo a sua aura iluminada, aos prantos revelou a família Gautama o que acabava de prever:
Se aquele menino príncipe permanecesse no palácio tornar-se-ia um grande rei e governaria o mundo, mas que por outro lado, se ele abandonasse os prazeres do mundo e buscasse viver os valores espirituais, tornar-se-ia um Buddha (O Salvador do Mundo).

Asita também identificou no corpo de Siddartha todos os sinais indispensáveis para que ele se tornasse um Buddha. Sudhodhana, preocupado com a sucessão, levou em consideração apenas a condição de Siddhartha se tornar o seu herdeiro.

O príncipe Siddhartha foi um menino curioso, inquieto e dotado de uma hipersensibilidade, vivia sempre buscando respostas para o sentido das coisas, da vida.

Ainda criança, aos sete anos, estando com seu pai a passeio deteve-se e ficou a observar um campo sendo preparado para semeadura, viu no solo um verme ser devorado por um pássaro que lá descansava e que após alçar vôo foi atacado por uma ave de rapina que o carregou em suas garras e fugiu em alta velocidade, sendo nessa hora atingida no peito por uma flecha de um caçador. Siddhartha ficou por algum momento em transe chocado com tudo que presenciou e passou a indagar-se: “o que leva os seres vivos a se matarem entre si?”, lembrou-se da morte de sua mãe logo quando ele nasceu e perguntou-se: “ninguém está livre do sofrimento?”.

Prosseguiu a sua vida cercado de riqueza e conforto, tornou-se um jovem forte, esportista e tão inteligente, que acabou por se tornar professor de todos os seus tutores, que eram escolhidos entre os melhores mestres do reino na época. Possuía três palácios para morar, um de inverno, outro de primavera e outro para o verão. Seu pai sempre que saia a passeio com ele ordenava que limpassem todas as ruas, retirassem delas os mendigos, doentes e enfeitassem todas as casas, mas vez por outra Siddhartha entristecia-se e tornava-se reflexivo. Nessas horas costumava a sentar-se por incontáveis horas, solitário e imóvel sob uma árvore a meditar, deixando os criados preocupados e ao entardecer, acontecia um estranho fenômeno em que a sombra da árvore em que estava não mudava de posição em relação ao sol.

Por esse comportamento introspectivo, Siddhartha foi apelidado de Sákyamuni (sábio silencioso dos Sákyas), isolava-se freqüentemente afastando-se de seus amigos e de sua família para ir sentar-se calmamente nos jardins do palácio.

Seu pai, temendo que se realilizassem as profecias do ermitão Arista em relação ao príncipe tornar-se um “Buddha”, o que o impediria de ser ele o seu sucessor, ordenou que fechassem as portas, para que Siddhartha jamais deixasse as dependências dos palácios e vivesse uma vida de completo isolamento. Um certo dia ele fugiu na companhia do seu fiel escudeiro, Channa e finalmente conheceu a cidade como realmente era, sem nenhum disfarce.

Assistiu a um ancião sendo insultado por um homem mais jovem e perguntou:

- O que há com aquele homem?

- É um velho, senhor- respondeu o servo - os idosos são descartados do convívio social, acham que eles não têm mais valor. Pode ser injusto, mas é desta forma que sempre aconteceu.

Bastante impressionado continuou o passeio e mais adiante viu um enfermo, coberto de feridas, fraco e com uma expressão de quem sentia muita dor.

- O que há com este homem?

- Está doente senhor, isto acontece com os que não cuidam da saúde e não se alimentam, sofrendo as fraquezas da carne.

- Isso pode acontecer com qualquer um?

- Sim senhor, todos estão sujeitos a isso.

Prosseguiu e mais adiante vinha passando uma procissão de enterro, mesmo antes de perguntar o seu escudeiro lhe falou:

- É a morte.

Desorientado, quis abandonar o local mais Siddhartha deparou-se com uma nova cena: avistou um homem esquelético e esfarrapado que serenamente pedia esmolas com uma pequena tigela nas mãos e tinha em si a expressão de um vencedor.

- Aquele é um homem santo. Não se deixa arrastar mais pelas paixões mundanas. Já compreendeu o verdadeiro significado da vida. – disse Channa.

Era um monge, e foi na serenidade desse homem que Siddhartha entendeu que existia uma saída que conduzia ao despertar. E assim, ele quis descobrir o segredo dessa serenidade para doá-la ao mundo.

Aos poucos com as suas reflexões ele foi deixando de lado todo o orgulho que sentia pela sua juventude e vigor. Casou-se ainda jovem com Yassodhara, teve um filho que foi chamado de Rahula e aos 29 anos decidiu abandonar de vez o palácio para viver como um asceta na floresta e ir em busca do conhecimento que o libertasse do sofrimento e conduzisse a serenidade.

Praticou meditação e severas austeridades durante seis anos, até que aos 35 anos, quando em estado de profunda meditação, sob a sombra de uma figueira, nas margens do Rio Nairanjana, diz a lenda que ele permaneceu assim por vários dias, uma luz começou a brilhar em sua testa e Siddhartha travou uma grande batalha com exércitos de demônios atacando-o com as mais terríveis armas. Aos seus olhos surgiram as mais variadas tentações: sede, luxúria, descontentamento, distrações de prazer, as quais foram sendo vencidas aos poucos, por causa da sua meditação que ia convertendo de forma indestrutiva toda a negatividade em harmonia e pureza, e as flechas lançadas contra ele transformavam-se em flores.

Foi assim, que finalmente Siddhartha alcançou a perfeita iluminação, tornou-se “O Buddha”, percebendo que no cosmos todos os seres estão harmoniosamente unidos, que nada existe por si só e que a natureza de todas as coisas só pode ser realmente conhecida conforme a sua relação com o Cosmos.

Siddhartha desencarnou aos 80 anos de idade e assim como Sócrates e Jesus não deixou nada escrito. Seus discípulos reuniram-se 100 anos após a sua morte para escrever todos os seus ensinamentos e fizeram assim “o Tipitaka”, que é a "bíblia" da escola Theraveda de ensino budista.

Para evitar a manifestação do orgulho e do apego, os monges não tinham nada e mendigavam o alimento, comendo o que lhe dessem. Todos os monges da Ordem de Buda tinham um código de vivência, que tinha que ser seguido por todos. São os Cinco Preceitos fundamentais, que até hoje são seguidos pelos Budistas:

1. Eu me comprometo a não matar.
2. Eu me comprometo a não tomar nada que não seja dado voluntariamente por outrem.
3. Eu me comprometo a não me entregar aos prazeres proibidos.
4. Eu me comprometo a não dizer nada de falso e a não dizer a verdade em ocasiões inoportunas.
5. Eu me comprometo a não me intoxicar com bebidas ou entorpecentes.


"Não creais em coisa alguma pelo fato de vos mostrarem o testemunho escrito de algum sábio antigo. Não creais em coisa alguma com base na autoridade de mestres e sacerdotes. Aquilo, porém, que se enquadrar na vossa razão e, depois de minucioso estudo, for confirmado pela vossa experiência, conduzindo ao vosso próprio bem e ao de todas as outras coisas vivas: A isso aceitai como Verdade. Por isso, pautai a vossa conduta."
Sidarta Gautama, 500 A.C.



"Os fenomenos da vida podem ser comparados a um sonho,a um fantasma,a uma bolha,a uma sombra,
a uma orvalhada cintilante ou a um raio luminoso, e como tal deveriam ser comtemplados."
                           (O Sutra mutável)

AMOR HOLLY

        HOLLY É O AMOR QUE TRANSCENDE

 NO AMAGO, AMANDO O PRÓPRIO
 SENTIMENTO DE AMAR,É UM ESTADO DO SER.

Nadja Feitosa

     HOLLY =AMOR(Floral de Bach)
A necessidade de amor é na verdade, a condiçao mais fundamental de sobrevivencia,sem ela morreriamos na infancia, e o amor incondicional que nos é dado, simplesmente porque existimos-completa o circuito que nos liga a vida,uma vez que temos como certo que a razão de existirmos é para aprendermos a amar e sermos felizes.

Devemos estar sempre prontos a expandir a mente e abandonar qualquer ideia,por mais arraigada que ela seja , se , encontrando uma experiencia mais ampla, uma verdade maior se revelar.
Eduardo Bach

"O amor-próprio também é uma negação da Unidade do dever que temos para com nossos irmãos, pois nos faz colocar nossos próprios interesses antes do bem da humanidade e do cuidado e proteção daqueles que estão mais perto de nós."

Assim como gostaríamos que os outros no ajudassem na subida íngreme e difícil da vida, estejamos também sempre prontos a estender uma mão amiga e a repartir a nossa experiência, produto de um aprendizado mais amplo, com um irmão mais jovem ou mais fraco.

A resignação, que nos converte em meros passageiros desatentos na jornada da vida, abre-nos as portas à influências adversas incalculáveis e que nunca teriam oportunidade de entrar se vivêssemos o cotidiano com espírito de alegria e de aventura. Qualquer que seja a nossa condição, a de trabalhador numa cidade populosa ou a de pastor solitário nas colinas, esforcemo-nos em converter a monotonia em interesse, o dever aborrecido em uma alegre oportunidade para uma nova experiência e a vida cotidiana num intenso estudo da humanidade e das leis fundamentais do Universo."
 Eduard Bach



Das virtudes de cada floral,digo que:
HOLLY É O AMOR QUE TRANSCENDE AMANDO O PRÓPRIO SENTIMENTO DE AMAR.
Com holly nos sentimos apaixonados pela vida,por tudo e todos.Há um alargamento de conciencia.



O UNIVERSO ESTA REPLETO DE MILAGRES O ORVALHO DO AMOR DERRAMA-SE TODAS AS MANHAS ENCHARCANDO O SOLO DO PLANETA E ENVOLVENDO AS ALMAS ... Nadja Feitosa.


Quando o amor flui em nos,traz tranformação.
O amor tem o poder de transformar tudo.
Holly vai abrir-nos para o amor da alma,
dissolvendo o medo,protegendo-nos, e irradiando
o amor em TUDO que faz parte de nossa vida.
Quando abrimos o coraçao,nos unimos a corrente
universal.Passamos então a amar de verdade,sentindo compaixão por
todos os seres.


O Amor é a Lei de Deus

O amor é a Lei de Deus. Viveis para que aprendais a amar. Amais para que aprendais a viver. Nenhuma outra lição é exigida do homem.

E que é amar, senão aquele que ama absorver o amado de modo que os dois sejam um?

A quem ou a o quê devemos amar? Podemos escolher certa folha da Árvore da Vida e despejar sobre ela todo o nosso coração? E o ramo que produziu essa folha? E a haste que sustenta esse ramo? E a casca que protege essa haste? E as raízes que alimentam a casca, os ramos e as folhas? E o solo que envolve as raízes? E o sol, o mar e o ar que fertilizam o solo?
Se uma pequena folha merece vosso amor, quanto mais o merecerá a árvore toda! O amor que corta uma fração do todo antecipadamente se condena ao sofrimento.
Direis: "Mas há muitas e muitas folhas em uma única árvore: umas são sadias, outras são doentes; umas são velhas, outras, feias; algumas são gigantes, outras são anãs. Como poderemos deixar de escolher?"
E dir-vos-ei: da palidez do doente provém a vitalidade do sadio. E dir-vos-ei ainda mais, que a fealdade é a paleta, a tinta e o pincel da beleza; e que o anão não seria anão se não tivesse dado parte de sua estatura ao gigante.
Vós sois a árvore da vida. Cuidado para não dividirdes a vós mesmos! Não ponhais um fruto contra outro fruto, uma folha contra outra folha, um ramo contra outro ramo; nem ponhais o ramo contra as raízes, ou a árvore contra a Terra-Mãe; É exatamente isso que fazeis quando amais uma parte mais do que o restante, ou com exclusão do restante.
Vós sois a árvore da vida. Vossas raízes estão em toda a parte. Vossos ramos e folhas estão em toda a parte. Vossas frutos estão em todas as bocas. Sejam quais forem os frutos dessa árvore; sejam quais forem seus ramos e folhas; sejam quais forem suas raízes, serão vossos frutos; serão vossas folhas e ramos; serão vossas raízes. Se quiserdes que a árvore de frutos doces e aromáticos, se a desejardes sempre forte e verde, cuidai da seiva com que alimentais suas raízes.
O Amor é a seiva da vida. O ódio é o pus da morte. Mas o Amor, tal como o sangue, precisa não encontrar obstáculos para circular nas veias. Reprimi o movimento do sangue, e ele se tornará uma ameaça, uma praga. E que é o ódio senão Amor reprimido ou Amor retido, tornando-se um veneno tanto para quem alimenta como para o alimentado, tanto para quem odeia como para quem é odiado?
Uma folha amarela em vossa árvore da vida é somente uma folha à qual faltou Amor. Não culpeis a folha amarela.
Um ramo ressequido é somente um ramo faminto de Amor. Não culpeis o ramo ressequido.
Uma fruta podre é somente uma fruta que foi amamentada com ódio. Não culpeis a fruta podre. Culpai antes vosso coração cego e egoísta que repartiu a seiva da vida a uns poucos e negou-a a muitos, negando-a assim a si próprio.
Não há outro amor possível senão o amor a si próprio. Nenhum ser é real, senão aquele que abrange o Todo. Eis porque Deus é amor; porque Deus se ama a si mesmo.
Se o Amor vos faz sofrer, é porque ainda não encontraste vosso próprio ser, nem achastes ainda a chave de ouro do Amor, pois se amais um ser efêmero, vosso amor é efêmero.
O amor do homem pela mulher não é Amor. É algo muito diferente. O amor dos pais pelos filhos é tão-somente o limiar do sagrado templo do Amor. Enquanto cada homem não amar a todas as mulheres, e vice-versa; enquanto cada criança não for filho de todos os pais e de todas as mães, e vice-versa, deixai que os homens se gabem das carnes e ossos que se apegam a outras carnes e ossos, mas jamais deis a isto o sagrado nome de Amor. Será blasfêmia.
Não tereis um único amigo enquanto vos considerardes inimigo ainda que seja de um único homem. Como pode o coração que abriga inimizade ser um refúgio seguro para a amizade?
Não conhecereis a alegria do Amor enquanto houver ódio no coração. Se alimentásseis com a seiva da vida todas as coisas, menos um pequenino verme, esse pequenino verme sozinho tornaria amarga vossa vida, pois quando amais alguém ou alguma coisa, em realidade somente amais a vós próprios. Do mesmo modo, quando odiais alguém ou alguma coisa, em verdade odiais a vós mesmos, pois quem ou aquilo que odiais está inseparavelmente ligado àquilo ou quem amais, como o verso e o reverso da mesma moeda. Se quiserdes ser honestos com vós mesmos tereis de amar aqueles e aquilo a quem ou a que odiais e aqueles e aquilo que vos odeia, antes de amardes o que amais e o que vos ama.
O Amor não é uma virtude. O Amor é uma necessidade; mais necessidade é do que o pão e a água; mais do que a luz e o ar.
Que ninguém se orgulhe de amar. Deveis respirar o Amor tão natural e livremente como respirais o ar para dentro e para fora de vossos pulmões, pois o Amor não precisa de ninguém que o exalte. O Amor exaltará o coração que considerar digno de si.
Não espereis recompensa do Amor. O Amor é, em si mesmo, recompensa suficiente para o Amor, assim como o ódio é, em si mesmo, castigo bastante para o ódio.
Não peçais contas ao Amor, pois o Amor não presta contas senão a si mesmo.
O Amor não empresta nem pode ser emprestado; o Amor não compra nem vende; mas quando dá, ele dá-se todo inteiro; e quando toma , toma tudo. E seu dar-se é tomar. Consequentemente é o mesmo, hoje, amanhã e sempre.
Assim como um poderoso rio que se esvazia no mar é reabastecido pelo pelo mar, assim deveis esvaziar-vos no Amor para que sejais para sempre enchidos de Amor.
A lagoa que retém o presente que o mar lhe dá, torna-se uma lagoa de água estagnada.
Não há "mais" nem "menos" no Amor. No momento em que tentardes graduar e medir o Amor, ele desaparecerá , deixando só amargas recordações. Nem há "agora" nem "depois", ou "aqui"e "acolá" no Amor. Todas as estações são estações do Amor. Todos os locais são próprios para serem habitados pelo Amor.
O Amor não conhece fronteiras nem obstáculos. Um Amor cuja ação é impedida por qualquer obstáculo não merece o nome de Amor. Sempre vos ouço dizer que o Amor é cego, no sentido de que não vê defeitos naquele que é amado. Essa espécie de cegueira é o máximo de visão.
Oxalá fôsseis sempre tão cegos que não encontrásseis faltas em coisa alguma!
Não! É claro e penetrante o olhar do Amor. Por isso ele não vê faltas. Quando o Amor houver purificado vossa visão, não vereis jamais nada que não seja digno de vosso Amor. Só uma vista despojada de Amor, um olho faltoso, está sempre ocupado em encontrar faltas, e quaisquer faltas que encontre, serão suas próprias faltas.
O Amor integra. O ódio desintegra. Mesmo vosso corpo, perecível como parece ser, resistiria à desintegração, se amásseis com a mesma intensidade cada uma das células que o constituem.
O Amor é paz cheia de melodias da vida. O ódio é a guerra ansiosa pelos satânicos golpes da morte.
Que preferis: o Amor para gozardes a paz eterna, ou o ódio para estardes sempre em guerra?
Toda a terra está viva em vós. O Céu e suas hostes estão vivos em vós. Amai, pois, a terra e todos os seus habitantes, se amais a vós mesmos.
Amai o Céu e todos os seus habitantes, se amais a vós mesmos.

("O Livro de Mirdad")

Rumi - Vida e Poesias



Rumi
(30 de Setembro de 1207 — 17 de setembro de 1273),


Toda forma que vês
tem seu arquétipo no mundo sem-lugar.
Se a forma esvanece, não importa,
permanece o original.

As belas figuras que viste,
as sábias palavras que escutaste,
não te entristeças se pereceram.

Enquanto a fonte é abundante,
o rio dá água sem cessar.
Por que te lamentas se nenhum dos
dois se detém?

A alma é a fonte,
e as coisas criadas, os rios.
Enquanto a fonte jorra, correm os rios.

Tira da cabeça todo o pesar
e sorve aos borbotões a água deste rio.
Que a água não seca, ela não tem fim.

Desde que chegaste ao mundo do ser,
uma escada foi posta diante de ti,
para que escapasses.

Primeiro, foste mineral;
depois, te tornaste planta,
e mais tarde, animal.
Como pode ser isto segredo para ti?

Finalmente foste feito homem,
com conhecimento, razão e fé.
Contempla teu corpo; um punhado de pó
vê quão perfeito se tornou!

Quando tiveres cumprido tua jornada,
decerto hás de regressar como anjo;
depois disso, terás terminado de vez com a terra,
e tua estação há de ser o céu.

Passa de novo pela vida angelical,
entra naquele oceano,
e que tua gota se torne o mar,
cem vezes maior que o Mar de Oman.

Abandona este filho que chamas corpo
e diz sempre Um; com toda a alma.
Se teu corpo envelhece, que importa?

Ainda é fresca tua alma. Jalal ud-Din Rumi
Poeta e místico sufi do século XIII
(Poemas Místicos, Ed. Attar, 1996)




Sou a névoa da manhã e a brisa da tarde.
Sou o vento na copa das árvores e as ondas contra o penhasco.
Sou todas as ordens de seres, e galáxias girantes,
a inteligência imutável, o ímpeto e a deserção.
Sou o que é e o que não é.
Tu, que conheces Jalaludin.
Tu, o Um em tudo,
Diz quem sou.
Diz: eu sou
Tu.


" Hoje é como todos os outros dias:

              acordamos vazios e assustados.

              Não abramos a porta da biblioteca

              para começar a ler. Larguemos a cítara.
              Deixemos que a beleza que amamos
              seja aquilo que fazemos.
              Há centenas de maneiras 
             de nos ajoelharmos e beijarmos o chão".


           "Quando vais a um jardim,
             olhas os espinhos ou as flores?

             Passa mais tempo

             com as rosas e os jasmins".


Mawlānā Jalāl-ad-Dīn Muhammad Rūmī (مولانا جلال الدین محمد رومی),
 também conhecido como Mawlānā Jalāl-ad-Dīn Muhammad Balkhī (محمد بلخى), ou ainda apenas Rumi ou Mevlana, (30 de Setembro de 1207 — 17 de setembro de 1273), foi um poeta, jurista e teólogo muçulmano persa do século XIII. Seu nome significa literalmente "Majestade da Religião"Jalal significa"majestade" e Din significa "religião".  Rumi é, também, um nome descritivo cujo significado é "o romano", pois ele viveu grande parte da sua vida na Anatólia, que era parte do Império Bizantino dois séculos antes.
Ele nasceu na então província persa de Balkh, na aldeia de Wakhsh, atualmente na província de Khatlon do Tadjiquistão. A região estava, nessa época, sob a esfera de influência da região de Khorasan e era parte do Império Khwarezmio. 
Ele viveu a maior parte de sua vida sob o Sultanato de Rum, no que é hoje a Turquia, onde produziu a maior parte de seus trabalhos e morreu em 1273 CE. Foi enterrado em Konya e seu túmulo tornou-se um lugar de peregrinação. Após sua morte, seus seguidores e seu filho Sultan Walad fundaram a Ordem Sufi Mawlawīyah, também conhecida como ordem dos dervishes girantes, famosos por sua dança sufi conhecida como cerimônia sema.
Os trabalhos de Rumi foram escritos em novo persa. Uma renascença literária persa (séc. VIII/IX) começou nas regiões de Sistan, Khorāsān e Transoxiana e por volta do século X/XI, ela substituiu o árabe como língua literária e cultural no mundo islâmico persa. Embora os trabalhos de Rumi houvessem sido escritos em persa, a importância de Rumi transcendeu fronteiras étnicas e nacionais. Seus trabalhos originais são extensamente lidos em sua língua original em toda a região de fala persa. Traduções de seus trabalhos são bastante populares no sul da Ásia, em turco, árabe e nos países ocidentais. Sua poesia também tem influenciado a literatura persa bem como a literatura em urdu, bengali, árabe e turco. 
Seus poemas foram extensivamente traduzidos em várias das línguas do mundo e transpostos em vários formatos;

 A BBC o descreveu como o "poeta mais popular na América".

 http://pt.wikipedia.org/wiki/Jalal_ad-Din_Muhammad_Rumi



Sou a névoa da manhã e a brisa da tarde.


Sou o vento na copa das árvores e as ondas contra o penhasco.
Sou todas as ordens de seres, e galáxias girantes,
a inteligência imutável, o ímpeto e a deserção.
Sou o que é e o que não é.
Tu, que conheces Jalaludin.
Tu, o Um em tudo,
Diz quem sou.
Diz: eu sou
Tu.

Alguns trabalham e enriquecem;
outros trabalham e continuam pobres.
A uns, o casamento enche de energia;
a outros, drena-os.
Não confies nos caminhos: eles mudam.
Os métodos vão para lá e para cá como o rabo do jumento.
Acrescenta sempre, a qualquer sentença,
a cláusula de gratidão: " Se Deus quiser"
e vai em frente, vai em frente...



O que fazer, se não me reconheço?
Não sou cristão, judeu ou muçulmano.
Se já não sou do Ocidente ou do Oriente,
não sou das minas, da terra ou do céu.
Não sou feito de terra, água, ar ou fogo;
não sou do Empíreo, do Ser ou da Essência.
Nem da China, da Índia ou Saxônia,
Da Bulgária, do Iraque ou Khorasan.
Não sou do paraíso, ou deste mundo,
Não sou de Adão e Eva, nem do Hades.
O meu lugar é sempre o não-lugar,
Não sou do corpo, da alma, sou do Amado.
O mundo é apenas Um, venci o Dois.
Sigo a cantar e buscar sempre o Um.
Primeiro e último, de dentro e fora,
Eu canto e reconheço aquele que É.
Ébrio de amor, não sei de céu e terra.
Não passo do mais puro libertino.
Se houver passado um dia em minha vida
Sem ti, eu desse dia me arrependo.


Na rica tradição mística do islã, Rûmî tem despontado como uma de suas figuras mais
luminosas. Como místico, revelou com grande intensidade poética os temas do amor e da
unidade do ser humano com o mistério sempre maior de Deus. O objetivo deste artigo é
situá-lo na tradição do sufismo e apresentar, de forma sintética, alguns traços de sua
reflexão mística: a paixão pela unidade, o trajeto para a unidade, a evidência de Deus e a
religião do amor.Revista de Estudos da Religião.

Este poema narra o impacto do encontro com Shams sobre Rûmî, encontro este
que mudaria todo o curso de sua vida. O nome Shams significa sol, e até mesmo o seu
nome reporta-se a um sentido simbólico, onde este é a luz que tudo ilumina, “o Sol de
Tabriz” que permite ver a lua. Shams revela-se como teofania – manifestação divina –
fundando a partir daí, outra “realidade”, ou  a intuição para contemplar a efetiva
realidade eterna. Rûmî encontra em Shams a face divina (o homem perfeito) o amigo
espiritual.
Rûmî buscava uma imagem viva do divino e estava apto a contemplá-la. Shams
colocou-se no lugar do Amado, o que permitiu ao Rûmî refletir e realizar-se nele.
Sol-espelho, era a um só tempo o Sol da verdade (Shams ul-Haqq como é chamado
no poema “A lua de Tabriz”, que abre a presente antologia) e o espelho polido no
qual Rûmî pôde reconhecer seu próprio sol em pleno brilho (Carvalho, 1996, p. 27).
A poesia de Rûmî é uma busca constante em expressar aquilo que não é
dizível, o inominável, pois  do âmbito do sentimento, apreendido pelo órgão do
“coração” (qalb), o ligame com o Amado leva-nos para um não-lugar, um não-ser, um
não-dizer. Como dizer deste êxtase da união mística se as palavras não dão conta de
exprimir o inexprimível?
 Moro na transparência desses olhos,
Nas flores de narciso, em seus sinais.
Quando a beleza fere o coração
A sua imagem brilha, resplandece.
O coração enfim rompe o açude
E segue velozmente rio abaixo.
Move-se generoso o coração,
Ébrio de amor, em sua infância, e salta,
Inquieto, e se debate; e quando cresce,
Põe-se a correr de novo enamorado.
O coração aprende com Seu fogo
A chama imperturbável desse amor (Lucchesi, 2000, p. 75).


sagrado de cada ser, as memórias daquilo que amamos e daquilo que de certa forma nos
é mais profundamente e interiormente desejado, querido. Nos recônditos da alma subjaz
as impressões do mundo captadas intuitivamente, passado pelo filtro do “si-mesmo”, ou
seja, o Deus que habita o nosso íntimo no fundo da alma (Grün, 2010, p. 169-172).
Percebo em alguns encontros a diferença entre um contato superficial, no qual a
gente conversa sobre todas as coisas possíveis, e um encontro cheio de alma, em que
a alma recebe asas. Então não falamos de alguma coisa genérica, mas chegamos ao
essencial. E de repente surge uma vibração. Duas almas se tocam e se fecundam.
Elas se animam mutuamente a tocar no pensar e no falar o mistério que as ultrapassa
(Grün, 2010, p. 228).
Há que se ter um coração polido para captar nas entrelinhas as teofanias que se
oferecem em cada momento, a cada instante. Deus se revela nos encontros que Ele
suscita: Rûmî e o dervixe errante Shams de Tabriz sentiram a sinfonia do amor nas
cordas de suas almas de modo magnânimo, sentiram um entrelaçamento de profundo
amor na face do outro, sentiam uma fluidez tal provocada por esse amor que os
reportavam para além das formas, do espaço e do tempo. Inebriados pela suavidade
desse amor, os dois se bastavam na cumplicidade, no afeto...
No entanto, essa união mística amorosa, gera ciúmes àqueles que não
conseguem mergulhar no mar do amor. E, foi o que aconteceu com Shams e Rûmî: os
discípulos de Rûmî ficaram tão enciumados do sentimento deste para com Shams que
começaram a conspirar contra a presença de Shams e a maldizer a amizade dos dois.
Shams, não suportando o despeito e o ressentimento gerados ao seu redor, resolve então
partir e novamente levar a vida de dervixe errante.
Com a partida de Shams, Rûmî consome-se em saudade, em noites de vigília
com a falta da presença do amigo fisicamente, e a nostalgia do amado servia-lhe como
perfeita inspiração para compor lindos poemas místicos.
Eu e Tu – A Experiência Mística
A ausência torna-se presença nos poemas de Rûmî. “Do amador que se
transforma na coisa amada. Do amor platônico ou socrático, a desvelar o paraíso.
       Rûmî e Shams uniram-se em comunhão mística (sobhet), na ante-sala do Amado,
 no jardim que anuncia outro e mais belo”: (Lucchesi, 2000, p.19)




EU e TU
Sentados no palácio duas figuras,
São dois seres, uma alma, tu e eu.
Um canto radioso move os pássaros
Quando entramos no jardim, tu e eu!
Os astros já não dançam, e contemplam
a lua que formamos, tu e eu!
Enlaçados no amor, sem tu nem eu,
Livres de palavras vãs, tu e eu!
Bebem as aves do céu a água doce
De nosso amor, e rimos tu e eu!
Estranha maravilha estarmos juntos:
Estou no Iraque e estás no khorasan
(Lucchesi, 2000, p. 19).

Da parte final do poema, pode-se entrever que a distância física não anula a
presença espiritual, Shams mesmo distante no Khorasan está junto à Rûmi, ao que Rûmî
maravilha-se. Segundo Adélia Prado (apud  Alves, 2002, p. 11) “Tudo aquilo que a
memória amou fica eterno”, e assim aconteceu com Rûmî, a sua memória do coração
não o deixava esquecer Shams dia e noite... O amor os unia mesmo apartados pelo
espaço/tempo, tudo estava em efusão amorosa. Mas, ainda assim, Rûmî ansiava pela
presença física do amado, o momento do encontro, espiritual e físico, em que o seu
coração pudesse sentir os eflúvios da doce presença física do amado. Um instante para
os amantes é eterno...
Lucchesi em
 A Sombra do Amado diz que “somente a teoria de Buber, a do Eu
e Tu, poderia iluminar as razões desse amor. Rûmî reconhece em Shams uma tensão
avassaladora, como se dissesse,  a força de sua exclusividade apoderou-se de mim”

(Lucchesi, 2000, p. 19). A força que invade a alma de Rûmî tem o poder de reportá-lo a
um mundo além das palavras, onde as cores e as formas adquirem uma nova luz, e o tu
se revela além da própria vontade do eu, que transforma-se em desejo inebriante da
presença, trazendo consigo a vontade de  estar em comunhão com o amado a todo
momento.
Sabe que o eu solitário, não existe e que o tu, isolado, não significa. O traço de união
é tudo. O Eu-Tu move o universo. E guarda os raios leves do Sol. Enigma e espelho.
Formas indiretas. Nostálgicas. Luminosas. As grandes amizades prometem céus
inaugurais. E Shams representa a consciência primordial, trama inconsútil entre
pensamento e palavra. O espírito que habita o campo da intuição e da possibilidade.
Tomados em conjunto, Rûmî e Shams representam o princípio da unidade, que


O que fazer, se não me reconheço?
Não sou cristão, judeu ou muçulmano.
Se já não sou do Ocidente ou do Oriente,
não sou das minas, da terra ou do céu.
Não sou feito de terra, água, ar ou fogo;
não sou do Empíreo, do Ser ou da Essência.
Nem da China, da Índia ou Saxônia,
Da Bulgária, do Iraque ou Khorasan.
Não sou do paraíso, ou deste mundo,
Não sou de Adão e Eva, nem do Hades.
O meu lugar é sempre o não-lugar,
Não sou do corpo, da alma, sou do Amado.
O mundo é apenas Um, venci o Dois.
Sigo a cantar e buscar sempre o Um.
Primeiro e último, de dentro e fora,
Eu canto e reconheço aquele que É.
Ébrio de amor, não sei de céu e terra.
Não passo do mais puro libertino.
Se houver passado um dia em minha vida
Sem ti, eu desse dia me arrependo.




Se pudesse passar um só instante
Contigo, eu dançaria nos dois mundos.
Shams de Tabriz, vou ébrio pelo mundo.
E beijo com meus lábios a loucura (Lucchesi, 2000, p. 103).
Os poemas do Divan em sua maioria terminam fazendo menção a Shams,
dedicando-os à Shams. Assim, como o objeto do amor humano (Shams), o objeto do
amor divino (Deidade) também não é para  nós uma efetiva presença física, nem por
isso, o ser humano deixa de intuí-lo no fundo da alma como presença real.
Mas há que ter o coração purificado para  perceber essa presença. Há que polir o
coração. Aqueles que assim o fazem, transcendem o mundo dos nomes e formas,
podendo contemplar sem cessar a Beleza a cada instante. O Amado é nosso vizinho
mais próximo, nós é que estamos distantes dele, porque estamos também distantes
do mistério que nos habita (Teixeira, 2004, p. 6).
Oh amigo, companheiro da caverna! Amor que
Devoras o coração.
Tu és meu companheiro, tu és minha caverna: Oh mestre, guarde-me!
Tu és como Noé, meu salvador, tu és minha alma, tu és o
Vencedor e o vencido.
Tu és o coração ferido, e eu estou diante da porta dos
Segredos!
Tu és a luz, tu és a alegria, tu és a fortuna triunfal.
Tu és o pássaro do Monte Sinai, eu fui ferido por teu
Bico.
Tu és a gota d’água e tu és o oceano, tu és a graça e tu és
O mensageiro.
Tu és o açúcar e tu és o veneno, não me entristeça
Mais!
Tu és a morada do sol, tu és o palácio de Vênus.
Tu és o jardim da esperança, mostre-me o caminho, Oh
Companheiro!
Tu és o dia, tu és o jovem, tu és a caridade;
Tu és a água, tu és o vaso: dê-me de beber.
Tu és o grão, tu és a carne, tu és o vinho, tu és a taça,
Tu és a maturidade e a imaturidade; faz-me maduro.
Se meu corpo fosse menos exigente, criaria menos obstáculos
Ao meu coração,
Ele se tornaria submisso, e não me seriam necessário tantas
Palavras (Rûmî, 1973, p. 69-70).
Sobre a questão do Amigo como condição de possibilidade de união mística,
Rûmî encontra em Shams “[...] o arquétipo do amor divino nele encarnado [...] Assim
também, no ato da entrega amorosa, o amado não representa o Amado, mas o
presentifica” (Lucchesi, 2000, p. 28). A união com o Amado (transcendente) se dá por
via da figura do outro, o semelhante ou próximo (imanente).
Na alteridade, na relação com o tu é que o homem alcança em plenitude sua humanidade e consequentemente o Amado.

Aqui há uma possível confluência com a mística cristã de São Francisco de
Assis, que abordaremos adiante.
Da sede pela unidade do Amor nasce a nostalgia do Amado, e essa é condição
existencial do ser humano: um sentimento  de incompletude. O ser humano vive em
busca da unidade originária e, com isso, angustia-se. Mas não é uma simples angústia
ou tristeza, mas a angústia existencial,  que deseja a completude do Amado. E, da
angústia, vem a insônia:

O sono perturbaste, meu Amado,
No sangue de meu frágil coração.
Sigo buscando a fonte da doçura
Acima do sublime entendimento;
Embora a noite seja imprevisível,
Torna meu sono límpido e suave.
Sou apenas a Sua sobrancelha,
Enquanto não alcanço o seu amor:
Estou magro, minguante, solitário,
E já não sei dormir na lua nova.
Peço ao Amor em plena madrugada
Que leve para longe o sono frágil.
E o sono volta, procura combate,
Mas foge: meu exército é maior.
Do céu vem o amor: sua grandeza,
Desejo cristalino e soberano,
Levou o sono dos meus olhos frágeis.
Velam comigo insones companheiros.
Se estás profundamente enamorado,
Segue sem vacilar esta vigília.
O sono volta nos primeiros raios
E mesmo assim resisto, e já não durmo (Lucchesi, 2000, p. 71).
Para o teólogo Faustino Teixeira, estudioso da mística islâmica, Rûmî é o
místico sufi que “canta a unidade”. Com o desejo de unir-se ao Amado e retornar ao
seio originário, encontra o amor como possibilidade, a nostalgia manifesta-se como
amor:
Há uma nostalgia permanente do ser humano, que anseia retornar à fonte e à união
com o Amado. E o que inspira o lamento da flauta, que sonha a comunhão, é o amor
(MI 12-14). A nostalgia manifesta-se como amor, que não é senão uma expressão da



“sede metafísica” pela unidade. Há em Rûmî um desejo imenso de Deus, uma

paixão pela unidade que passa além das fronteiras. Da razão e da loucura. Do
inferno e do paraíso. Das confissões (Teixeira, 2004, p. 7).
Mas, Faustino Teixeira sublinha que:
Na visão de Rûmî, Deus está presente no íntimo do coração: é o sempre-já-aí. O
Deus transparente que é diafania mais que epifania. Mas Dele há sempre que
recordar, permanentemente. Quando há no coração a presença da centelha do amor
de Deus, a correspondência de amor vem imediatamente (MIII, 4396) [...] O amor
humano é etapa e ponte que traduz uma caminhada mais complexa em direção ao
Amado. O amor é para Rûmî um “estado de alma” que conduz ao horizonte do amor
divino e aponta o caminho. Daí sua convicção da importância da religião do amor,
como a mais sublime forma de todas as religiões. O amor é “o único lugar, o único
ponto capaz de religar o eu do ser humano e o mundo da unidade, que é o mundo da
divindade” (Teixeira, 2004, p.13-15).




Em Rûmî passamos da metafísica do ser para a metafísica do não-ser. [...] E os
místicos morrem de amor. A vida e a morte iluminam as águas do silêncio. Do
silêncio do não-ser. Da fruição divina. O Tudo e o Nada. Desabitar-se para habitarse. Sair para não-sair. Morrer pra não-morrer. Tal a dialética dos místicos. Seguir da
névoa ao resplendor da Lua. Das águas turvas para as águas claras. E assim, para os
sunitas, as águas deste Mundo movem-se, entre fluxo e refluxo, criação e destruição
(Lucchesi, 2000, p. 13-14).


A experiência religiosa profunda é aquela que bebeu na fonte de um mundo que está para além das palavras, que conformou um novo sentimento, traduzido numa paisagem distinta. Mas o acesso a tal paisagem é destinado àqueles que se aperfeiçoam na simplicidade de espírito, que quebram as barreiras da vaidade e da prepotência (MVI:2370-2371), e tecem novos estados de mente. São aqueles capazes de perceber a primavera que está implicada no outono (MII:2264), antecipando o canto de amor do apaixonado rouxinol, que liberta os lares da tristeza. Isto é bem traduzido na poesia de Hafiz: “Ei-la que volta, a Primavera, com o encanto das rosas. Contempla-lhe as faces frescas, e a planta amarga da tristeza se desenraizará do teu coração.
É também necessário saber manter viva a alegria, não apenas nos momentos positivos, mas também diante das perdas que marcam a existência. A alegria está inscrita no cerne da própria definição do sufismo, como indica Mawlānā (MIII:3261). Enquanto outros empalidecem de medo, o sufi verdadeiro mantém o riso aberto, seguindo o exemplo da rosa (MIII:3257), que mantém sua beleza e fragrância mesmo quando suas pétalas são arrancadas. No momento em que as violentas intempéries tendem a ameaçar a vida e o otimismo, os sufis fazem recurso à chave essencial da felicidade, que é a paciência (sabr). Esta é para eles não só uma defesa contra o sofrimento, mas um grande elixir (MIII:1841 e 1852-1854). O livro do Corão fala na “bela paciência” (C 12,18 e 83). O grandioso espetáculo das flores na primavera são resultado de um tempo de paciência que marcou as árvores e a vegetação durante o inverno. É este exemplo que anima os amantes do Cântico dos Cânticos, a saírem pelos campos para viver a experiência do amor (Ct 7,12). Eles seguem a escola da natureza. Aprenderam a “esperar o tempo do amor”, atravessando todas as suas fases, passando pelo tempo das flores, até chegar à estação dos frutos. Na primavera podem, então, celebrar o amor tão desejado.

Entre as mais ricas mensagens deixadas por Rūmī, e que permanecem atuais é a da cortesia inter-religiosa e a delicadeza espiritual. É um místico marcado por grande liberdade, otimismo e ousadia. Não convida ninguém a romper com o caminho de sua tradição, mas insiste com vigor na necessidade de avançar para dentro da tradição, naquele núcleo mais íntimo onde brota a água viva da Realidade. E, curiosamente, é na intimidade deste núcleo que se abrem as condições para o encontro verdadeiro com os outros. Trata-se de uma intuição que foi percebida em tempos mais recentes por Simone Weil. Em tese que encontrou grande resistência entre teólogos católicos, esta autora sublinhou que “os místicos de quase todas as tradições religiosas coincidem quase até à identidade". Em sem ensaio sobre as formas de amor implícito a Deus, Simone Weil mostrou que somente “aquele que conhece o segredo dos corações” é capaz de alcançar “o segredo das diferentes formas de fé”. E as religiões não podem ser conhecidas a não ser a partir de seu interior.
Rūmī deixa também o desafio de manter a vida conectada com o Mistério maior e agraciada com a sua acolhedora presença. Nada mais estranho ao seu pensamento do que um mundo desencantado. Para ele, todas as ações humanas devem ser banhadas pela presença e “permissão do Amado”. Não há, a seu ver, ação humana que não esteja envolvida pela iniciativa original divina. Com base no texto corânico (C 8,17), Mawlānā irá repertir diversas vezes ao longo do Mathnawī, que não é o arqueiro que atira as flexas quando atira, mas é Deus quem as atira.
Não se pode apagar nos seres humanos esta chama do infinito sobrenatural que habita o fundo de sua alma. Não é sem razão que Muhammad Khatami, com base nos grandes pensadores místicos da tradição islâmica, instaura uma dura crítica aos caminhos secularizados do Ocidente. Uma vida sem Deus, como ele mesmo sublinha, é “escura e estreita”. Ou poderia-se ainda dizer, uma vida sem espiritualidade é sempre curta e empobrecedora. Isto é também o que se percebe ao ler a grandiosa obra do grande mestre de Konia. Segundo Kathami,
“apesar de todas as nossas limitações e inabilidades e de vivermos num mundo regido pela ansiedade e cheio de incertezas é admirável que possamos entrar em contato direto com este Deus e estabelecer um relacionamento emocional e lingüístico sincero com Ele, o centro do ser, fonte de vida, aconselhamento e direção. Este é um Deus magnífico e majestoso, a quem amamos e reverenciamos”.
obs: publicado no livro: Marco LUCCHESI & Faustino TEIXEIRA (Orgs.). O canto da unidade. Em torno da poética de Rûmî. Rio de Janeiro

Quando há pureza na experiência de louvor a Deus, a impureza se levanta e vai embora (MIII, 186). Não há, segundo Rûmî, melhor companheiro do que as obras para atravessar a existência. Nem os amigos, nem todas as riquezas e bens da terra conseguem acompanhar o ser humano para além da tumba, mas sim a excelência de suas ações (MV, 1045-1047). Deus é melhor invocado com a língua dos atos, pois a língua das palavras é frágil (MV, 1044). O amor, como indica Rûmî no Rubâi´yât, é o fiel escudeiro do ser humano nos tempos de sua avaliação derradeira: