Khalil Gibran - O Mestre






E ele ergueu a fronte e olhou para a multidão,Altamira disse:
 “Fala-nos do amor.”e um silêncio caiu sobre todos, e com uma voz forte, disse:

O AMOR

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Quando o amor vos chamar, segui-o,

Embora seus caminhos sejam agrestes e escarpados;

E quando ele vos envolver com suas asas, cedei-lhe,
Embora a espada oculta na sua plumagem possa ferir-vos;
E quando ele vos falar, acreditai nele,
Embora sua voz possa despedaçar vossos sonhos
Como o vento devasta o jardim.
Pois, da mesma forma que o amor vos coroa,
Assim ele vos crucifica.
E da mesma forma que contribui para vosso crescimento,
Trabalha para vossa queda.
E da mesma forma que alcança vossa altura
E acaricia vossos ramos mais tenros que se embalam ao sol,
Assim também desce até vossas raízes
E as sacode no seu apego à terra.
Como feixes de trigo, ele vos aperta junto ao seu coração.
Ele vos debulha para expor vossa nudez.
Ele vos peneira para libertar-vos das palhas.
Ele vos mói até a extrema brancura.
Ele vos amassa até que vos torneis maleáveis.
Então, ele vos leva ao fogo sagrado e vos transforma
No pão místico do banquete divino.
Todas essas coisas, o amor operará em vós
Para que conheçais os segredos de vossos corações
E, com esse conhecimento,
Vos convertais no pão místico do banquete divino.
Todavia, se no vosso temor,
Procurardes somente a paz do amor e o gozo do amor,
Então seria melhor para vós que cobrísseis vossa nudez
E abandonásseis a eira do amor,
Para entrar num mundo sem estações,
Onde rireis, mas não todos os vossos risos,
E chorareis, mas não todas as vossas lágrimas.
O amor nada dá senão de si próprio
E nada recebe senão de si próprio.
O amor não possui, nem se deixa possuir.
Porque o amor basta-se a si mesmo.
Quando um de vós ama, que não diga:
“Deus está no meu coração”,
Mas que diga antes:


"Eu estou no coração de Deus”.

E não imagineis que possais dirigir o curso do amor,

Pois o amor, se vos achar dignos,
Determinará ele próprio o vosso curso.
O amor não tem outro desejo
Senão o de atingir a sua plenitude.
Se, contudo, amardes e precisardes ter desejos,
Sejam estes os vossos desejos:
De vos diluirdes no amor e serdes como um riacho
Que canta sua melodia para a noite;
De conhecerdes a dor de sentir ternura demasiada;
De ficardes feridos por vossa própria compreensão do amor
E de sangrardes de boa vontade e com alegria;
De acordardes na aurora com o coração alado
E agradecerdes por um novo dia de amor;
De descansardes ao meio-dia
E meditardes sobre o êxtase do amor;
De voltardes para casa à noite com gratidão;
E de adormecerdes com uma prece no coração para o bem-amado,
E nos lábios uma canção de bem-aventurança.

Khalil Gibran





"Nossas almas são como flores tenras à mercê dos ventos do Destino. 
Elas tremulam à brisa da manhã e curvam as cabeças sob o orvalho cadente do Céu."
Khalil Gibran

Como o amor, o apelo da música é universal.


 E seus ritmos expressam todas as estações da alma.
O homem não sabe o que diz o pássaro ou o córrego
ou as ondas da chuva.
Mas seu coração percebe misteriosamente o sentido de todas essas vozes,
que ora o alegram,ora o entristecem.


Adotarei o amor
e o escutarei cantando,
e o beberei como vinho,
e o usarei como vestimenta. 

Na aurora, 
o amor me acordará e
me conduzirá aos prados distantes. 

Ao meio dia,
conduzir-me-á à sombra das árvores 
onde me protegerei do sol como os pássaros. 

Ao entardecer conduzir-me-á ao poente,
onde ouvirei a melodia da natureza 
despedindo-se da luz,
e contemplarei as sombras da quietude 
adejando no espaço. 

À noite,
o amor abraçar-me-á,
e sonharei com os mundos superiores 
onde moram as almas 
dos enamorados e dos poetas. 

Na primavera,
andarei com o amor, lado a lado,
e cantaremos juntos entre as colinas;
e seguiremos as pegadas da vida, 
que são as violetas e as margaridas;
e beberemos a água da chuva, 
acumulada nos poços,
em taças feitas de narciso e lírios. 

No verão,
deitar-me-ei ao lado do amor
sobre camas feitas com feixes de espigas, 
tendo o firmamento por cobertor
e a lua e as estrelas por companheiras. 

No outono,
irei com o amor aos vinhedos
e nos sentaremos no lagar,
e contemplaremos as árvores se despindo
das suas vestimentas douradas
e os bandos de aves migratórias 
voando para as costas do mar. 

No inverno,
sentar-me-ei com o amor diante da lareira
e conversaremos sobre os
acontecimentos dos séculos
e os anais das nações e povos. 

O amor será meu tutor na juventude,
meu apoio na maturidade,
e meu consolo na velhice. 
O amor permanecerá comigo até o fim da vida,
até que a morte chegue,
e a mão de Deus nos reúna de novo.

Gibran Khalil Gibran



A borboleta continuará a pairar sobre o campo 
e as gotas de orvalho ainda brilharão sobre a relva 
quando as pirâmides do Egito estiverem destruídas 
e não mais existirem os arranha-céus de Nova York.

O AUTO-CONHECIMENTO

Então, um homem se dirigiu a ele:
Fala-nos do conhecimento de si.
E ele respondeu:
Os vossos corações conhecem, no silêncio,
os segredos dos dias e das noites.
Mas os vossos ouvidos têm sede de ouvir, no final,
o eco do saber dos vossos corações.
Gostaríeis de saber pelo verbo
o que sempre soubestes pelo pensamento.
Gostaríeis de sentir com os dedos
o corpo nu dos vossos sonhos.
E está certo que assim o queirais.
A fonte oculta da vossa alma deve necessariamente
jorrar e correr, murmurando, até o mar;
e o tesouro das vossas profundezas infinitas
deve revelar-se aos vossos olhos.
Mas que não haja balança
que pese o vosso tesouro desconhecido;
e não procureis explorar os abismos do vosso saber
com a vara ou com a sonda,
pois o eu é um mar sem limites e sem medida.
Não digais: «Encontrei a verdade»,
mas antes: «Encontrei uma verdade.»
Não digais: «Encontrei o caminho da alma.»
Mas antes: «Cruzei-me com a alma no meu percurso.»
Pois a alma caminha por todas as vias.
A alma não anda sobre uma linha
nem se alonga como uma vara.
A alma abre-se a si mesma,
como se abre um lótus de incontáveis pétalas

Das ostras

Uma ostra disse a outra ostra vizinha:
- Sinto uma grande dor dentro de mim, é profundo, redondo e me lastima.
E a outra ostra replicou com arrogante complacência:
- Louvados sejam os céus e as águas do mar, porque eu não sinto dor dentro de mim! Sinto-me bem intacta por dentro e por fora.
Nesse momento, um velho caranguejo que por ali passava escutou às ostras, e falou à que estava bem por dentro e por fora:
- Se, te sentes bem e intacta é porque estás vazia; mas a dor que suporta tua vizinha é uma pérola de inigualável beleza.

Tempestade


Pássaro e o homem tem essências diferentes.

O homem vive à sombra de leis e tradições por ele inventadas;

o pássaro vive segundo a lei universal que faz girar os mundos.

Acreditar é uma coisa; viver conforme o que se acredita é outra.

Muitos falam como o mar, mas vivem como os pântanos.
Muitos levantam a cabeça acima dos montes;
mas sua alma jaz nas trevas das cavernas.
A civilização é uma arvore idosa e carcomida,
cujas flores são a cobiça e o engano e cujas frutas
são a infelicidade e o desassossego.
Deus criou os corpos para serem os templos das almas.
Devemos cuidar desses templos para que sejam
dignos da divindade que neles mora.
Procurei a solidão para fugir dos homens, de suas leis,
de suas tradições e de seu barulho.
Os endinheirados pensam que o sol e a lua e as estrelas se levantam
dos seus cofres e se deitam nos seus bolsos.
Os políticos enchem os olhos dos povos com poeira
dourada e seus ouvidos com falsas promessas.
Os sacerdotes aconselham os outros,
mas não aconselham a si mesmos,
e exigem dos outros o que não exigem de si mesmos.
Vã é a civilização. E tudo o que está nela é vão.
As descobertas e invenções nada são senão brinquedos
com a mente se diverte no seu tédio.
Cortar as distâncias, nivelar as montanhas,
vencer os mares, tudo isso não passa de
aparências enganadoras, que não alimentam ocoração e nem elevam a alma.
Quanto a esses quebra-cabeças, chamados ciências e artes,
nada são senão cadeias douradas com os quais o homem
se acorrenta, deslumbrados com seu brilho e tilintar.
São os fios da tela que o homem tece desde o inicio
do tempo sem saber que, quando terminar sua obra,
terá construído a prisão dentro da qual ficará preso.
Uma coisa só merece nosso amor e nossa dedicação, uma coisa só...
É o despertar de algo no fundo dos fundos da alma.
Quem o sente não o pode expressar em palavras.
E quem não o sente, não poderá nunca conhecê-lo através de palavras.
Faço votos para que aprendas a amar as tempestades em vez de fugir delas.

Entre as colinas,

Quando vos sentardes à sombra fresca
dos álamos brancos, rtilhando da paz e da serenidade dos campos
e dos prados distantes,
então que vosso coração diga em silêncio:
“Deus repousa na Razão”.
E quando bramir a tempestade,
e o vento poderoso sacudir a floresta,
e o trovão e o relâmpago proclamarem
a majestade do céu,
então que vosso coração diga
com temor e respeito:
“Deus age na Paixão”.
E já que sois um sopro na esfera de Deus
e uma folha na floresta de Deus,
também devereis
descansar na razão e agir na paixão.
Alegria
e a
Tristeza



A vossa alegria é a vossa tristeza mascarada.

E o mesmo poço de onde sai o vosso riso esteve muitas vezes cheio de lágrimas.
E como poderá ser de outra maneira?
Quanto mais fundo a tristeza entrar no vosso ser, maior é a alegria que podereis conter.
A taça que contém o vosso vinho não é a mesma que foi feita no forno do oleiro?
E a lira que vos apanigua o espírito não é da mesma madeira com que foram esculpidas as facas?
Quando estiverdes alegres, olhai bem dentro do vosso coração e descobrireis que só aquele que vos deu tristezas vos dá também alegrias.
Quando estiverdes tristes, olhai novamente para dentro do vosso coração e
vereis que na verdade estais a chorar por aquilo que foi a vossa alegria.
Alguns de vós dizeis, "A alegria é maior que a tristeza" e outros dirão "Não, a tristeza é maior".
Mas eu digo-vos que são inseparáveis.
Juntas vêm, e, quando uma se senta junto de vós lembrai-vos que a outra está a dormir na vossa cama.
Na verdade, estais suspensos como balanças entre a vossa tristeza e a vossa alegria.
Só quando vos esvaziais ficais em equilíbrio e imóveis.
Quando o guardador de tesouros vos erguer para pesar o seu ouro e a sua prata, nem a vossa alegria nem a vossa tristeza se devem alterar.
(o profeta)
http://auxilioemocional.blogspot.com.br/
"A neve e as tempestades matam as flores, 
mas nada podem contra as sementes."
Khalil Gibran

AREIA E ESPUMA




Caminho para sempre nessas praias
Entre a areia e a espuma.A maré alta apagará as minhas pegadas.E o vento dissipará a espuma.Mas o mar e a praia permanecerãoPara sempre.Dizem-me no seu despertar:
“Tu e o mundo em que vives não são sois mais do que
um grão de areia na praia infinita deuma mar infinito.”E, em meu sonho, digo-lhes:
“Sou o mar infinito, e todos os mundos não são
mais do que grãos de areia em minha praia.O primeiro pensamento de Deus foi um anjo.A primeira palavra de Deus foi um homem.A lembrança é uma forma de encontro.O esquecimento é uma forma de libertação.Não podemos atingir a aurorasem passar pela noite.
Minha casa me diz: “Não me deixes,
pois aqui mora teu passado.”
E a estrada me diz: “Vem e segue-me,
porque sou o teu futuro.”
E eu digo a ambas: “Não tenho
passado nem futuro. Se ficar aqui, haverá
uma ida em minha permanência;
e se partir, haverá uma permanência em minha ida.
Só o amor e a morte mudam todas as coisas.”
Existe um espaço entre a imaginaçãodo homem e suas realizações que somentesua ânsia pode atravessar.A medida do homem não está naquiloque ele alcança, mas naquilo que elealmeja alcançar.Quando a vida não encontra um
cantor para cantar seu coração, produz
um filósofo para falar a sua mente.
Muitas doutrinas são como a vidraça da janela.
Vemos através dela, mas ela nos separa da verdade.
Brinquemos agora de esconder.
Se te escondesses no meu coração,
não seria difícil encontrar-te.
Mas se te escondesses atrás de tua própria casca,
Então seria inútil procurar por ti.
Quanto é nobre o coração triste quecanta com os corações alegres!As árvores são poemas que a terraescreve sobre o firmamento.Derrubamo-las e transformamo-las em papel pararegistrar nosso vazio.Se cuidais de escrever
( e só os santos sabem porque o faríeis ),
precisareis possuir o conhecimento da música das palavras, a arte de se libertar da arte, e a magia de amar vossos leitores.As palavras são eternas. Devereis pronunciá-lasou escrevê-las, lembrando-vos de sua eternidade.A poesia é uma sabedoria quedeslumbra o coração.A sabedoria é uma poesia que canta na mente.Se pudéssemos deslumbrar o coração
do homem e, ao mesmo tempo, cantar em sua mente,
Então, em verdade, ele viveria à sombra de Deus.
A inspiração sempre cantará; a inspiração nunca explicará.



Sobre a Morte




Vós conheceis o segredo da morte.

Mas como o encontrareis a menos que o procureis no âmago do coração?
O mocho cujos olhos nocturnos são cegos para a claridade, não pode
desvendar o mistério da luz.
Se quereis verdadeiramente conhecer o espírito da morte, abri o vosso
coração até ao corpo da vida.
Pois vida e morte são uma só, tal como o são o rio e o mar.
Na profundeza do vossos desejos e esperanças está a consciência silenciosa
do além;
E tal como as sementes que sonham sob a neve, também o vosso coração
sonha com o desabrochar.
Confiai nos sonhos, pois neles está a porta para a eternidade.
O vosso medo da morte não é mais do que o temor do pastor quando se vê
perante o rei que ergue a sua mão para o honrar.
E sob a sua tremura, não está feliz o pastor, por trazer em si a insígnia do rei?
E, no entanto, não está mais consciente do seu tremor?
Pois o que é morrer senão ficar nu ao vento e fundir-se com o sol?
E o que é deixar de respirar senão libertar a respiração das suas inquietações
a fim de ela poder elevar-se e expandir-se até Deus?
Só quando beberdes do rio do silêncio sereis capazes de cantar.
E quando chegardes ao cimo da montanha, podereis então começar a subir.
E quando a terra reclamar o vosso corpo, então sereis verdadeiramente
capazes de dançar.
(O Profeta)
http://auxilioemocional.blogspot.com.br/


Os Filhos

Os vossos filhos não são vossos filhos.

São filhos e filhas da Vida que anseia por si mesma.

Eles vêm através de vós mas não de vós.

E embora estejam convosco não vos pertencem.

Podeis dar-lhes o vosso amor mas não os vossos pensamentos,
pois eles têm os seus próprios pensamentos.
Podeis abrigar os seus corpos mas não as suas almas.
Pois as suas almas vivem na casa do amanhã,
que não podereis visitar, nem em sonhos.
Podereis tentar ser como eles, mas não tenteis torná-los como vós.
Pois a vida não anda para trás nem se detém no ontem.
Vós sois os arcos de onde os vossos filhos,
quais flechas vivas, serão lançados.
O Arqueiro vê o sinal no caminho do infinito
e Ele com o Seu poder faz com que as Suas flechas partam rápidas e cheguem longe.
Que a vossa inflexão na mão do Arqueiro seja para a alegria;
Pois assim como Ele ama a flecha que voa,
Também ama o arco que se mantém estável.
 - Khalil Gibran em "O Profeta"

Em 1991, o Presidente George Bush declarou no seu discurso da inauguração do Memorial Gibran, na Avenida Massachusetts: “Este poeta escrevera um dia: "O amor é uma palavra luminosa, escrita por uma alma iluminada numa página de luz" e, de minha parte eu digo: a mão é sua e nossos corações são a página sobre a qual esta palavra luminosa foi traçada”.

“A tristeza é um muro entre dois jardins”.

“Quem não sabe aceitar as pequenas falhas das mulheres não aproveitará suas grandes virtudes.”
“Vivemos só para descobrir beleza. Todo o resto é uma forma de espera.”
“As flores desabrocham para continuar a viver, pois reter é perecer.”
“Para entender o coração e a mente de uma pessoa, não olhe para o que ela já conseguiu, mas para o que ela aspira.”
“Alguns ouvem com as orelhas, outros com o estômago, outros ainda com o bolso e há aqueles que não ouvem absolutamente nada.”
“Uma vida sem amor é como árvores sem flores e sem frutos. E um amor sem beleza é como flores sem perfume. Vida, amor, beleza: eis a minha trindade”.
“O exagero é a verdade que perdeu a calma.”
“A neve e as tempestades matam as flores, mas nada podem contra as sementes”.
“Aprendi o silêncio com os faladores, a tolerância com os intolerantes, a bondade com os maldosos; e, por estranho que pareça, sou grato a esses professores”.
“Aquele que nunca viu a tristeza, nunca reconhecerá a alegria.”
“Somos todos prisioneiros, mas alguns de nós estão em celas com janelas, e outros sem.”
“Se eu conhecesse a causa da minha ignorância, seria um sábio.”



"A vossa alegria é a vossa tristeza mascarada.

E o mesmo poço de onde sai o vosso riso esteve muitas vezes cheio de

lágrimas.

E como poderá ser de outra maneira?

Quanto mais fundo a tristeza entrar no vosso ser, maior é a alegria que

podereis conter.

A taça que contém o vosso vinho não é a mesma que foi feita no forno do

oleiro?
E a lira que vos apanigua o espírito não é da mesma madeira com que foram
esculpidas as facas?
Quando estiverdes alegres, olhai bem dentro do vosso coração e descobrireis
que só aquele que vos deu tristezas vos dá também alegrias.
Quando estiverdes tristes, olhai novamente para dentro do vosso coração e
vereis que na verdade estais a chorar por aquilo que foi a vossa alegria.
Alguns de vós dizeis, "A alegria é maior que a tristeza" e outros dirão "Não, a
tristeza é maior".
Mas eu digo-vos que são inseparáveis.
Juntas vêm, e, quando uma se senta junto de vós lembrai-vos que a outra está a dormir na vossa cama.
Na verdade, estais suspensos como balanças entre a vossa tristeza e a vossa alegria.
Só quando vos esvaziais ficais em equilíbrio e imóveis.
Quando o guardador de tesouros vos erguer para pesar o seu ouro e a sua prata, nem a vossa alegria nem a vossa tristeza se devem alterar."

 Khalil Gibran










Ainda ontem pensava que não era

Ainda ontem pensava que não era
mais do que um fragmento trémulo sem ritmo
na esfera da vida.
Hoje sei que sou eu a esfera,
e a vida inteira em fragmentos rítmicos move-se em mim.

Eles dizem-me no seu despertar:
" Tu e o mundo em que vives não passais de um grão de areia
sobre a margem infinita
de um mar infinito."

E no meu sonho eu respondo-lhes:

"Eu sou o mar infinito,
e todos os mundos não passam de grãos de areia
sobre a minha margem."

Só uma vez fiquei mudo.
Foi quando um homem me perguntou:
"Quem és tu?"

Khalil Gibran




Ainda ontem pensava que não era
mais do que um fragmento trémulo sem ritmo
na esfera da vida.
Hoje sei que sou eu a esfera,
e a vida inteira em fragmentos rítmicos move-se em mim.

Eles dizem-me no seu despertar:
" Tu e o mundo em que vives não passais de um grão de areia
sobre a margem infinita
de um mar infinito."

E no meu sonho eu respondo-lhes:

"Eu sou o mar infinito,
e todos os mundos não passam de grãos de areia
sobre a minha margem."

Só uma vez fiquei mudo.
Foi quando um homem me perguntou:
"Quem és tu?"

Gibran Khalil Gibran




“A consciência de uma planta no meio do inverno não está voltada para o verão que passou, mas para a primavera que irá chegar. A planta não pensa nos dias que já foram, mas nos que virão. Se as plantas estão certas de que a primavera virá, por que nós – os humanos – não acreditamos que um dia seremos capazes de atingir tudo o que queríamos?”



 Da Música 

Sentei-me ao pé daquela que meu coração ama, e ouvi suas palavras. Minha alma começou a vaguear pelos espaços infinitos onde o universo aparecia como um sonho, e o corpo como uma prisão acanhada.
A voz encantadora de minha Amada penetrou em meu coração.
Isto é música, amigos, pois eu a ouvi através dos suspiros daquela que amo, e pelas palavras balbuciadas por seus lábios.
Com os olhos de meus ouvidos, vi o coração de minha Amada.
Meus amigos: a Música é a linguagem dos espíritos. Sua melodia é como uma brisa saltitante que faz nossas cordas estremecerem de amor. Quando os dedos suaves da música tocam à porta de nossos sentimentos, acordam lembranças que há muito jaziam escondidas nas profundezas do Passado. Os acordes tristes da Música trazem-nos dolorosas recordações; e seus acordes suaves nos trazem alegres lembranças. A sonoridade de suas cordas faz-nos chorar à partida de um ente querido ou nos faz sorrir diante da paz que Deus nos concedeu.
A alma da Música nasce do espírito e sua mensagem brota do Coração.
Quando Deus criou o Homem, deu-lhe a Música como uma linguagem diferente de todas as outras. Mesmo em seu primarismo, o homem primitivo curvou-se à glória da música; ela envolveu os corações dos reis e os elevou além de seus tronos.
Nossas almas são como flores tenras à mercê dos ventos do Destino. Elas tremulam à brisa da manhã e curvam as cabeças sob o orvalho cadente do céu.
A canção dos pássaros desperta o Homem de sua insensibilidade, e o convida a participar dos salmos de glória à Sabedoria Eterna, que criou a melodia de suas notas.
Tal música nos faz perguntar a nós mesmos o significado dos mistérios contidos nos velhos livros.
Quando os pássaros cantam, estarão chamando as flores nos campos, ou estão falando às árvores, ou apenas fazem eco ao murmúrio dos riachos? Pois o Homem, mesmo com seus conhecimentos, não consegue saber o que canta o pássaro, nem o que murmura o riacho, nem o que sussurram as ondas quando tocam as praias vagarosa e suavemente.
Mesmo com sua percepção, o homem não pode entender o que diz a chuva quando cai sobre as folhas das árvores, ou quando bate lentamente nos vidros das janelas. Ele não pode saber o que a brisa segreda às flores nos campos.
Mas o coração do homem pode pressentir e entender o significado dessas melodias que tocam seus sentidos. A Sabedoria Eterna sempre lhe fala numa linguagem misteriosa; a Alma e a Natureza conversam entre si, enquanto o Homem permanece mudo e confuso.
Mas o Homem já não chorou com esses sons? E suas lágrimas não são, porventura, uma eloquente demonstração?

Divina Música!
Filha da Alma e do Amor.
Cálice da amargura
E do Amor.
Sonho do coração humano,
Fruto da tristeza.
Flor da alegria, fragrância
E desabrochar dos sentimentos.
Linguagem dos amantes,
Confidenciadora de segredos.
Mãe das lágrimas do amor oculto.
Inspiradora de poetas, de compositores
E dos grandes realizadores.
Unidade de pensamento dentro dos fragmentos
Das palavras.
Criadora do amor que se origina da beleza.
Vinho do coração
Que exulta num mundo de sonhos.
Encorajadora dos guerreiros,
Fortalecedora das almas.
Oceano de perdão e mar de ternura.
Ó música.
Em tuas profundezas
Depositamos nossos corações e almas.
Tu nos ensinaste a ver com os ouvidos
E a ouvir com os corações.




 Do Casamento 

Aqui o Amor começa a traduzir a prosa da Vida em hinos e cânticos de louvor, com música que é preparada à noite para ser cantada durante o dia. Aqui a força do amor despe-se dos seus véus, e ilumina todos os recessos do coração, criando uma felicidade que só é excedida pela da Alma quando se encontra com Deus.
O casamento é a união de duas divindades para dar nascimento a uma terceira na terra. É a união de duas almas num amor tão forte que possa abolir qualquer separação. É aquela superior unidade que junta as metades antes separadas, de dois espíritos. É o elo de ouro de uma cadeia cujo começo é um olhar, e cujo fim é a eternidade. É a chuva pura que cai de um céu perfeito para frutificar e abençoar os campos da divina Natureza.
Assim como o primeiro olhar entre os que se amarão é como uma semente lançada no coração humano, e o primeiro beijo de seus lábios uma flor nos ramos da árvore da vida, também a união de dois amantes pelo casamento é como o primeiro fruto da primeira flor daquela semeadura.

Do Livro “A Voz do Mestre” 

Do Primeiro Olhar
Do Primeiro Beijo
Do Casamento

 Do Primeiro Olhar 

É aquele momento em que a Vida passa da sonolência para a alvorada. É a primeira chama que ilumina o íntimo mais profundo do coração. É a primeira nota mágica arrancada das cordas de prata do sentimento. É aquele momento instantâneo em que se abrem diante da alma as crônicas do Tempo, e se revelam aos olhos as proezas da noite, e as vozes da consciência. Ele é que abre os segredos da Eternidade para o futuro. É a semente lançada por Ishtar, deusa do Amor, e espargida pelos olhos do ser amado na paisagem do Amor, depois regada e cuidada pela afeição, e finalmente colhida pela alma.
O primeiro olhar vindo dos olhos do ser amado é como o espírito que se movia sobre a face das águas e deu origem ao céu e à terra, quando o Senhor sentenciou: “E agora, vivei!”

 Do Primeiro Beijo 

É o primeiro gole de néctar da Vida, numa taça ofertada pela divindade. É a linha divisória entre a dúvida que engana o espírito e entristece o coração, e a certeza que inunda de alegria nosso íntimo. É o começo da canção da Vida e o primeiro ato do drama do Homem Ideal. É o vínculo que une a obscuridade do passado com a luminosidade do futuro; é a ponte entre o silêncio dos sentimentos e a sua própria melodia. É uma palavra pronunciada por quatro lábios, proclamando o coração um trono, o Amor um rei e a fidelidade uma coroa. É o toque leviano dos dedos delicados da brisa nos lábios da rosa — pronunciando um longo suspiro de alívio e um suave gemido.
É o começo daquela vibração mágica que transporta os amantes do mundo das coisas e dos seres para o mundo dos sonhos e das revelações.
É a união de duas flores perfumadas; e a mistura de suas fragrâncias, para a criação de uma terceira alma.
Assim como o primeiro olhar é uma semente lançada pela divindade no campo do coração humano, assim o primeiro beijo é a primeira flor nascida na ponta dos ramos da Árvore da Vida.
• “O trabalho é a imagem completa do mais perfeito amor”.



• “ – O que é trabalhar com amor?


É tecer o tecido com fios desfiados de vosso próprio coração, como se vosso bem-amado fosse usar esse tecido;
É construir uma casa com afeição, como se vosso bem-amado fosse habitar essa casa;
É semear sementes com ternura e recolher a colheita com alegria, como se vosso bem-amado fosse colher os frutos;
É por em todas as coisas que fazeis um sopro de vossa alma;
É saber que todos os abençoados mortos nos rodeiam e nos observam.”



• “Sereis, na verdade, livres, não quando vossos dias estiverem sem preocupação e vossas noites sem necessidades e sem aflição, mas antes, quando essas coisas sobrecarregarem vossa vida e, entretanto, conseguirdes elevar-vos acima delas, desnudos e desatados.”




• “Se quiserdes conhecer a Deus, não procureis transformar-vos em decifradores de enigmas. Olhai, antes, à vossa volta e encontrá-lo-eis a brincar com vossos filhos. E erguei os olhos para o espaço e vê-lo-eis caminhando nas nuvens, estendendo os braços no relâmpago e descendo na chuva. E o vereis sorrindo nas flores e agitando as mãos nas árvores.” 




• Que é morrer se não expor-se, desnudo, aos ventos e dissolver-se no sol? E que é cessar de respirar, senão libertar o hálito de suas marés agitadas, a fim de que se levante e se expanda e procure a Deus livremente?”




• “Mais um curto instante, e minha nostalgia começará a recolher argila e espuma para um novo corpo. Mais um curto instante, mais um descanso rápido sobre o vento, e outra mulher me conceberá”.


 O Homem e a Natureza 
~ Gibran Kahlil Gibran ~

Ao romper do dia, sentei-me na campina, travando conversa com a Natureza, enquanto o Homem ainda descansava sossegadamente nas dobras da sonolência. Deitei-me na relva verde e comecei a meditar sobre estas perguntas:

Será a Beleza Verdade? Será Verdade a Beleza?

E em meus pensamentos vi-me levado para longe da humanidade. Minha imaginação descerrou o véu de matéria que escondia meu íntimo. Minha alma expandiu-se e senti-me ligado à Natureza e a seus segredos. Meus ouvidos puseram-se atentos à linguagem de suas maravilhas.

Assim que me sentei e me entreguei profundamente à meditação, senti uma brisa perpassando através dos galhos das árvores e percebi um suspiro como o de um órfão perdido.

“Por que te lamentas, brisa amorosa?” perguntei.
E a brisa respondeu: “Porque vim da cidade que se escalda sob o calor do sol, e os germes das pragas e contaminações agregaram-se às minhas vestes puras. Podes culpar-me por lamentar-me?”
Mirei depois as faces de lágrimas coloridas das flores e ouvi seu terno lamento... E indaguei: “Por que chorais, minhas flores maravilhosas?”
Uma delas ergueu a cabeça graciosa e murmurou: “Choramos porque o Homem virá e nos arrancará, e nos porá à venda nos mercados da cidade.”
E outra flor acrescentou: “À noite, quando estivermos murchas, ele nos atirará no monte de lixo. Choramos porque a mão cruel do Homem nos arranca de nossas moradas nativas.”
Ouvi também um riacho lamentando-se como uma viúva que chorasse o filho morto, e o interroguei: “Por que choras meu límpido riacho?”
E o riacho retrucou: “Porque sou compelido a ir à cidade, onde o Homem me despreza e me rejeita pelas bebidas fortes, e faz de mim carregador de seu lixo, polui minha pureza e transforma minha serventia em imundície.”
Escutei, ainda, os pássaros soluçando e os interpelei: “Por que chorais meus belos pássaros?”
E um deles voou para perto, pousou na ponta de um ramo e justificou: “Daqui a pouco, os filhos de Adão virão a este campo com suas armas destruidoras e desencadearão uma guerra contra nós, como se fôssemos seus inimigos mortais. Agora estamos nos despedindo uns dos outros, pois não sabemos quais de nós escaparão à fúria do Homem. A morte nos segue, aonde quer que vamos.”
Então o sol já se levantava por trás dos picos da montanha e coloria os topos das árvores com auréolas douradas. Contemplei tão grande beleza e me perguntei:
“Por que o homem deve destruir o que a Natureza construiu?”

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Fonte: A Voz do Mestre, Gibran Kahlil Gibran – 

Tradução do original, em inglês: Arnaldo Poesia.

Links relacionados:

— Gibran Kahlil Gibran: O Poeta do Amor

Wikipedia+InternetLivro A voz do mestre. 




6 de Janeiro, é o aniversário do poeta e pintor libanês Khalil Gibran.
Nascido em 1883, na pitoresca aldeia de Becharre, e falecido em 1931, há quem o considere “o mais importante poeta do Líbano e um dos pensadores contemporâneos mais notáveis” (introdução à edição da Libro-Mex Editores do seu livro “el Loco“). Aos onze anos, emigrou com a família para os Estados Unidos, tendo vivido em Boston, num bairro marginal. Depois de regressar ao Líbano, em 1897, percorre a Grécia, a Itália e a Espanha, fixando-se em Paris, onde estudou arte. A partir de 1910, viveu em Nova Iorque, onde escreve livros e expõe quadros, sem jamais deixar de se preocupar com o destino do seu país natal.
Seu nome completo é Gibran Kahlil Gibran. Assim assinava em árabe. Em inglês, preferiu a forma reduzida e ligeiramente modificada de Khalil Gibran. É mais comumente conhecido sob o simples nome de Gibran.





Algumas das sua obras: O Louco [Coimbra: A Mar Arte, 1997], O Profeta [Coimbra: Alma Azul, 1999] (considerada a sua obra-prima), O Vagabundo [Braga: Editorial A.O., 1989], Espírito Rebelde [Mem Martins : Livros de Vida, 2003] (queimado inquisitorialmente na preça de Beirute),…



Vim para dizer uma palavra e devo dizê-la agora. Mas se a morte me impedir, ela será dita pelo amanhã, porque o amanhã nunca deixa segredos no livro da Eternidade. Vim para viver na glória do Amor e na luz da Beleza, que são reflexos de Deus.
Estou aqui, vivendo, e não me podem extrair o usufruto da vida porque, através da minha palavra atuante, sobreviverei mesmo após a morte. Vim aqui para ser por todos e com todos, e o que faço hoje na minha solidão ecoará amanhã entre todos os homens.
O que digo hoje com apenas meu coração será dito amanhã por milhares de corações.
 Gibran Kahlil Gibran 

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