O que é tao?


O taoísmo (ou daoísmo) surgiu na China em 440, primeiro como combinação de psicologia e filosofia, depois como religião. Hoje é uma das três crenças mais difundidas entre os chineses, ao lado do budismo e do confucionismo. Ao pé da letra, “tao” quer dizer caminho. Na acepção ocidental pode significar Deus, a essência de tudo, a energia que está em todo lugar. Mas são definições incompletas, algo cartesianas, da sabedoria sutil e especial dos povos do Oriente. A rigor, o tao só pode ser entendido quando é vivido, embora alguns de seus princípios sejam de compreensão universal. Por exemplo, o desenvolvimento de compaixão, moderação e humildade, a partir da idéia de que o bem atrai o bem. Ou a noção de um tempo cíclico, não-linear, no qual passado, presente e futuro se entrecruzam continuamente. Não há divindades, apenas a percepção de que tudo é possível a partir do autoconhecimento e da observação atenta dos fenômenos naturais. Mas é o símbolo do yin-yang que encerra uma das mais perfeitas interpretações do taoísmo: a complementação dos opostos, algo que pode ser percebido em todo o Universo ” bem e mal, claro e escuro, macho e fêmea etc. Grande parte dos fundamentos do taoísmo está no Tao-te-Ching, escrito por Lao-Tse por volta do século 5 a.C. Enquanto sistema filosófico, o tao influencia várias tradições e práticas que conhecemos, como a acupuntura, a medicina holística e as artes marciais.


Filosofia:

* Do Caminho surge Um, de cuja consciência por sua vez surge o conceito de Dois (Yin e Yang), dos quais o número Três está implicito (Céu,Terra, Humanidade), produzindo a totalidade das coisas que conhecemos, as dez mil coisas, através da Harmonia dos 5 movimentos (wuxing) Terra, Fogo, Água, Madeira e Ar.

*Aja de acordo com a natureza, com sutileza em lugar de força. É a arte do não agir. Exemplo: lutar contra a correnteza é inútil, atrasando apenas. É melhor se deixar guiar pela força da água, e tudo dará certo. Confiando na nossa natureza e não na nossa racionalidade, poderemos encontrar realização e alegria numa vida sem grandes lutas reais ou imaginárias. Viver aquilo que se acredita é melhor do que pregar para que os outros a vivam.

*Unidade: Todos e tudo são interdependentes, uma coisa só, representamos apenas um momento presente. Tudo e todos são reestruturados de acordo com as circunstâncias. Nós apenas somos.

*Dualismo: Yin e Yang, opostos e complementares. Embora opostos, um não existe sem o outro, o movimento é circular, Yin dentro do Yang, e Yang dentro do Yin. Extremo de Yin vira Yang, extremo do Yang vira Yin. Ex: Homem e mulher, dia e noite, sol e lua, luz e sombra, ativo e passivo, vale e montanha, movimento e quietude, branco e preto, etc. Nenhum dos dois é melhor que o outro, são apenas faces do todo. Um sem o outro não existe.
Dra. Jociane Neves




O Tao e seu padrão nos escapam:

Como uma espada que corta mas não consegue cortar a si mesma;
Como um olho que vê mas não consegue ver-se a si mesmo

Observando o núcleo, 
mudamos seu comportamento,
e observando as galáxias, 
elas fogem de nós -
e, na tentativa de compreender o cérebro,
defrontamo-nos com um obstáculo, qual seja
o de não possuirmos instrumento melhor 
do que o próprio cérebro para tal fim.

O maior obstáculo para o conhecimento objetivo
está em nossa própria presença subjetiva.

Assim,
só nos resta confiar
e seguir com o Tao,
como fonte 
e base 
de nosso próprio ser,
o qual
  
 Pode ser alcançado 
mas não visto.

Alan Watts
em: Tao, o curso do Rio.



 Tao *

Barbara Bossert-Ramsay 
O título do Fórum anual de Mt. Abu, Índia, em fevereiro de 1998, foi O espírito do século 21. 
Foram três os principais temas do fórum: simplicidade, criatividade e responsabilidade. 
Durante o fórum, Robin Ramsay, Barbara Bossert-Ramsay e Tamasin Ramsay adaptaram e 
apresentaram O Tao para interligarem os temas, e então, Dadi Janki compartilhou a sabedoria de 
toda uma vida sobre cada um dos três tópicos. 
Essa é a essência.


SIMPLICIDADE
Conhecer os outros é sabedoria;
conhecer a si próprio é iluminação,
ter maestria sobre outros requer violência;
ter maestria sobre si próprio requer força.
Estar feliz onde você está é estar contente,
estar contente é estar eternamente presente,
estar eternamente presente é O Caminho.
*
Aqueles que sabem não falam.
Aqueles que falam não sabem.
Mantenha sua boca fechada,
proteja seus sentidos.
Abrande sua rigidez.
Simplifique seus problemas.
Acautele-se sobre qualquer situação
que requeira novas vestimentas.
Aquele que atingiu esse estado é feliz
com amigos e inimigos,
está confortável com o bom ou com o mal,
Este é o mais elevado estágio do homem.
*
As cinco cores cegam os olhos.
Os cinco sons ensurdecem os ouvidos.
Os cinco sabores entorpecem o paladar.
Ter e perder irrita a mente.
Coisas preciosas guiam para fora do caminho.
O sábio, portanto, é guiado pelo que sente, e não pelo que vê.
Ele abandona aquilo e escolhe isto

Se eu tiver algum bom senso,
caminharei na estrada principal e meu único medo será o de me afastar dela.
Manter-se na estrada principal é fácil,
mas as pessoas adoram estar às margens.
Quando a corte é alinhada em esplendor,
os campos estão cheios de ervas,
e os celeiros estão expostos.
Alguns usam vestimentas maravilhosas,
carregam espadas afiadas,
e entregam-se à comida e à bebida;
as pessoas possuem mais do que podem usar.
Este, certamente, não é o caminho.
Santidade, caridade, ingenuidade.
Estes três são apenas formas externas.
Eles não são suficientes por si só.
Desista da santidade.
Renuncie à autojustiça da sabedoria,
e isso será cem vezes melhor para todos.
Desista da caridade.
Renuncie opiniões de o quê deveria ser
e a humanidade redescobrirá o respeito e o amor.
Desista da ingenuidade.
Renuncie à acumulação e o lucro
e bandidos e ladrões desaparecerão.
É mais importante
ver a simplicidade,
desfazer-se do egoísmo
abrandar os desejos
realizar sua verdadeira natureza.
Isso é contentamento.
Nisso está a felicidade.
*
Esvazie-se.
Deixe a sua mente descansar.
Todas as coisas do mundo sobem e descem
enquanto a alma observa o retorno.
Tudo cresce e floresce e, então, retorna à sua origem.
Retornar à origem é quietude.
Isso é imutável, eterno.
Conhecer essa constância libera a mente.
Uma mente livre gera um coração aberto.
Com o coração aberto, você agirá com realeza.
Sendo real você alcançará o divino.
editorabk.org.br


 


Tao Te Ching edição Wang Bi, Japão 1770
O Tao de que se pode falar não é o verdadeiro e eterno Tao.
O nome que pode ser dito não é o verdadeiro nome.
O que não tem nome é a origem do Céu e da Terra
E o nomear é a mãe de todas as coisas.

Sem a intenção de o considerar,
Podemos apreender o mistério e as suas subtilezas,
Através da sua ausência de forma.
Tentando considerá-lo, só podemos ver a sua manifestação
Nas formas que definem o limite das coisas.

Ambos provêm da mesma fonte e são o mesmo.
Diferem apenas devido ao aparecimento dos nomes.
São o mistério mais profundo,
a porta para todos os mistérios.
Cap.40
As dez mil coisas nascem a partir do que existe (e tem nome)
E o que existe nasce do que não existe (e não tem nome).
Cap.4
O Tao é como o espaço vazio dentro de um vaso;
Mas, por mais que o enchamos, nunca ficará cheio.
É incomensurável, como se fosse o Antepassado de todas as coisas.
Cap.41
Quando um estudioso mais sábio ouve falar no Tao,
Abraça-o com zelo.
Quando um estudioso médio ouve falar no Tao,
Pensa nele de vez em quando.
Quando um estudioso inferior ouve falar no Tao,
Ri-se às gargalhadas.
Se ele não risse
O Tao não seria o Tao (o Caminho).
Cap.11
Trinta raios convergem para o meio de uma roda
Mas é o buraco em que vai entrar o eixo que a torna útil.
Molda-se o barro para fazer um vaso;
É o espaço dentro dele que o torna útil.
Fazem-se portas e janelas para um quarto;
São os buracos que o tornam útil.

Por isso, a vantagem do que está lá
Assenta exclusivamente
na utilidade do que lá não está.
Cap.48
Na busca do conhecimento, todos os dias algo é adquirido,
Na busca do Tao, todos os dias algo é deixado para trás.
E cada vez menos é feito
até se atingir a perfeita não-acção.
Quando nada é feito, nada fica por fazer.

Domina-se o mundo deixando as coisas seguirem o seu curso.
E não interferindo.
Cap.3
Não exaltar os homens com habilidade superior
Evita que as pessoas rivalizem entre si;
Não dar valor às coisas raras
Evita que surjam ladrões;
Não lhes mostrar o que pode excitar os seus desejos
É o modo de manter os seus corações em paz.

Por isso, o sábio governa simplificando-lhes as mentes,
Enchendo-lhes a barriga,
Enfraquecendo-lhes a ambição
Fortalecendo-lhes os ossos,
Mantendo-os sem conhecimentos e desejos que os desviem do Caminho,
De modo a que os que têm nunca ousem sequer interferir.
Se nada for feito, tudo estará bem.
Cap.60
Governa-se um estado
Como se frita um peixe pequeno.
(Para fritar um peixe pequeno, é só deixá-lo fritar; não é preciso virá-lo ou interferir de outro modo qualquer. E usa-se lume brando.)
 Ficheiro:Representation of Laozi.PNG
 Lao Tzi 
Lao Zi

A dificuldade de traduzir a língua chinesa

A língua chinesa (e sobretudo a mais antiga) é muito concisa. São frequentes frases sem verbos como "eu grande tu pequeno" ou "eu grande tu" (= sou maior do que tu). Para a traduzir, é necessário compor a frase com pronomes, advérbios, preposições, conjunções, que não estão na língua original.
Enquanto nas línguas ocidentais a gramática é uma estrutura sólida com a qual se podem construir períodos e parágrafos complexos, a gramática chinesa é fluida e flexível. Hoje usam-se sinais de pontuação, mas isso é muito recente. Por isso, como não existem maiúsculas, é, por vezes, complicado perceber onde começa cada frase. No estilo clássico, utilizavam-se as rimas de palavras para indicar o fim das frases.
Os caracteres são elementos que formam frases com grande versatilidade. Cada caractere (ou palavra) é um elemento móvel na estrutura e influencia o significado e a função dos outros e é influenciada por eles. Só quando se percorreu e analisou toda uma frase de um texto chinês antigo se "decifra" o seu significado. Dependendo do contexto, a palavra «mestre» pode significar também "para servir o mestre", "para seguir o mestre" etc. Uma palavra antes de um verbo pode constituir o tema de uma frase mas pode também ser um determinante do verbo, como, por exemplo, em "dez andar", que significa "andar dez passos". A palavra "eu" pode significar eu, me, mim, o meu, a minha. O plural só é indicado em caso de necessidade, quando não se entende pelo sentido de uma frase.
"Bom chá" é um chá que é bom, mas a "chá bom" segue-se um termo de comparação (bom, nessa posição, significa maior do que). "Cão carne" pode significar duas coisas diferentes conforme o contexto: carne de cão ou carne para o cão. Mas "vaca carne" é carne de vaca, porque a vaca é um animal herbívoro.
Na língua escrita de estilo antigo, cada palavra, em geral, era escrita usando um único caractere (monossilábico); era um estilo muito mais conciso e literário do que é a língua falada. (Por isso, os europeus julgaram, inicialmente, que o chinês era uma língua monossilábica. Mas a língua falada é mais dissilábica e polissilábica.)
Como o Tao Te Ching foi escrito usando a escrita de estilo antigo, o texto é extremamente conciso e não é de interpretação fácil mesmo para um chinês. O significado de cada monossílabo, no meio de uma série continua de caracteres sem pontuação, não surge espontaneamente; as frases têm uma estrutura mais difícil de detectar. As palavras que rimam sugerem as frases que estão presentes; mas nem sempre elas estão lá e nem sempre a estrutura fica perfeitamente clara. Sabe-se também que na época de Lao Tzi não havia uma escrita unificada, porque a China não estava ainda politicamente unificada, e que o significado e pronúncia de muitos caracteres se foi alterando com o tempo

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