Nós os Filhos da Terra







A terra de nosso supremo lar
É uma terra de flores sem espinhos:
Não se permitem ali as atras florestas do medo
Nem se semeia jamais a Dor.

O riacho do amor corre ali sem cessar,
A criação é um deslumbramento
E visões celestiais consolam a terra
Enquanto torrentes imemoriais alegram os olhos.

Ali toda oração é auto-suficiente,
Ninguém regateia dádivas,
A vida é feita de verdade,
E desconhece a máscara da ilusão.

Proscrito está o egoísmo,
E vedados os pensamentos personalizados,
Senhor algum governa, servo algum obedece,
Sombra alguma empana a Divina Luz.

Não é um arroubo poético
Esse mundo de amor e êxtase
Que, no fundo de cada coração,
Espera apenas ser descoberto.

Poema sufi - Dilip Kumar Roy - Peregrinos das estrelas







                                             Nós, os filhos da Terra 

 

Nós, os filhos da Terra, 
viajantes siderais, 
herdeiros da eternidade, 
ciganos estelares,
unidos à centelha divinal em nossos corações, 
erguemos as mãos em saudações ao Supremo Alquimista, 
ao incomparável Arquiteto, 
ao insuperável Poeta, 
repousando nossa mente meditativa em Ti. 

Celebramos a existência sem limitações, 
cantamos a alegria transbordante que nos contagia.
Louvamos o silêncio e a palavra,
respeitamos a ordem cósmica e a lei planetária, 
e pleiteamos nosso lugar no concerto das galáxias. 

O Bem representa nossa nutrição diária, 
o mal é apenas passageiro. 
O Amor terrestre é nosso precioso tesouro; 
a guerra é apenas temporária. 

Em nós coexistem o lobo e o cordeiro, 
Brahma e Shiva, 
a força e a renúncia. 

Somos um amálgama obtruso e excelso,
reflexos de um mistério inescrutável.

Nossos olhos cintilam como um raio 
ou expressam ternura e devoção. 
Terrestres momentâneos, 
dirigimo-nos a Ti, 
agradecendo por nossa respiração,
nossos filhos, 
nosso alimento 
e espaço vital. 

Somos peregrinos errantes a vagar pelo tempo, 
mas nossa jornada solitária conduz a Ti,
Presença distante a velar por todos nós. 

 texto hindu: Os mestres da Terra 
 Sérgio de Souza Carvalho


A Terra é um minúsculo ponto, 
distante 6.4 bilhões de quilômetros, 
no meio de um raio solar,
 circulado em azul.



Olhem de novo para esse ponto. Isso é a nossa casa, isso somos nós. Nele, todos a quem ama, todos a quem conhece, qualquer um dos que escutamos falar, cada ser humano que existiu, viveu a sua vida aqui. O agregado da nossa alegria e nosso sofrimento, milhares de religiões autênticas, ideologias e doutrinas econômicas, cada caçador e colheitador, cada herói e covarde, cada criador e destruidor de civilização, cada rei e camponês, cada casal de namorados, cada mãe e pai, criança cheia de esperança, inventor e explorador, cada mestre de ética, cada político corrupto, cada superestrela, cada líder supremo, cada santo e pecador na história da nossa espécie viveu aí, num grão de pó suspenso num raio de sol.
A Terra é um cenário muito pequeno numa vasta arena cósmica. Pensai nos rios de sangue derramados por todos aqueles generais e imperadores, para que, na sua glória e triunfo, vieram eles ser amos momentâneos duma fração desse ponto. Pensai nas crueldades sem fim infligidas pelos moradores dum canto deste pixel aos quase indistinguíveis moradores dalgum outro canto, quão frequentes as suas incompreensões, quão ávidos de se matar uns aos outros, quão veementes os seus ódios.
As nossas exageradas atitudes, a nossa suposta auto-importância, a ilusão de termos qualquer posição de privilégio no Universo, são reptadas por este pontinho de luz frouxa. O nosso planeta é um grão solitário na grande e envolvente escuridão cósmica. Na nossa obscuridade, em toda esta vastidão, não há indícios de que vá chegar ajuda de algures para nos salvar de nós próprios.
A Terra é o único mundo conhecido, até hoje, que alberga a vida. Não há mais algum, pelo menos no próximo futuro, onde a nossa espécie puder emigrar. Visitar, pôde. Assentar-se, ainda não. Gostarmos ou não, por enquanto, a Terra é onde temos de ficar.
Tem-se falado da astronomia como uma experiência criadora de firmeza e humildade. Não há, talvez, melhor demonstração das tolas e vãs soberbas humanas do que esta distante imagem do nosso miúdo mundo. Para mim, acentua a nossa responsabilidade para nos portar mais amavelmente uns para com os outros, e para protegermos e acarinharmos o ponto azul pálido, o único lar que tenhamos conhecido.







Carl Sagan


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