Bertolt Brecht



Aos que vierem depois de nós
Bertolt Brecht
(Tradução de Manuel Bandeira)



Realmente, vivemos muito sombrios!

A inocência é loucura. 

Uma fronte sem rugas

denota insensibilidade. Aquele que ri

ainda não recebeu a terrível notícia

que está para chegar.



Que tempos são estes, em que

é quase um delito
falar de coisas inocentes.
Pois implica silenciar tantos horrores!
Esse que cruza tranqüilamente a rua
não poderá jamais ser encontrado
pelos amigos que precisam de ajuda?

É certo: ganho o meu pão ainda,
Mas acreditai-me: é pura casualidade.
Nada do que faço justifica
que eu possa comer até fartar-me.
Por enquanto as coisas me correm bem
(se a sorte me abandonar estou perdido).
E dizem-me: "Bebe, come! Alegra-te, pois tens o quê!"

Mas como posso comer e beber,
se ao faminto arrebato o que como,
se o copo de água falta ao sedento?
E todavia continuo comendo e bebendo.

Também gostaria de ser um sábio.
Os livros antigos nos falam da sabedoria:
é quedar-se afastado das lutas do mundo
e, sem temores,
deixar correr o breve tempo. Mas
evitar a violência,
retribuir o mal com o bem,
não satisfazer os desejos, antes esquecê-los
é o que chamam sabedoria.
E eu não posso fazê-lo. Realmente,
vivemos tempos sombrios.


Para as cidades vim em tempos de desordem,
quando reinava a fome.
Misturei-me aos homens em tempos turbulentos
e indignei-me com eles.
Assim passou o tempo
que me foi concedido na terra.

Comi o meu pão em meio às batalhas.
Deitei-me para dormir entre os assassinos.
Do amor me ocupei descuidadamente
e não tive paciência com a Natureza.
Assim passou o tempo
que me foi concedido na terra.

No meu tempo as ruas conduziam aos atoleiros.
A palavra traiu-me ante o verdugo.
Era muito pouco o que eu podia. Mas os governantes
Se sentiam, sem mim, mais seguros, — espero.
Assim passou o tempo
que me foi concedido na terra.

As forças eram escassas. E a meta
achava-se muito distante.
Pude divisá-la claramente,
ainda quando parecia, para mim, inatingível.
Assim passou o tempo
que me foi concedido na terra.

Vós, que surgireis da maré
em que perecemos,
lembrai-vos também,
quando falardes das nossas fraquezas,
lembrai-vos dos tempos sombrios
de que pudestes escapar.

Íamos, com efeito,
mudando mais freqüentemente de país
do que de sapatos,
através das lutas de classes,
desesperados,
quando havia só injustiça e nenhuma indignação.

E, contudo, sabemos
que também o ódio contra a baixeza
endurece a voz. Ah, os que quisemos
preparar terreno para a bondade
não pudemos ser bons.
Vós, porém, quando chegar o momento
em que o homem seja bom para o homem,
lembrai-vos de nós
com indulgência.



O poema acima foi extraído do caderno "Mais!", jornal Folha de São Paulo - São Paulo (SP), edição de 07/07/2002, tendo sido traduzido pelo grande poeta brasileiro Manuel Bandeira.


Bertolt Brecht 


Nasceu em Augsburg, Alemanha, em 1898. Em 1917 inicia o curso de medicina em Munique, mas logo é convocado pelo exército, indo trabalhar como enfermeiro em um hospital militar. Aquele que iria se tornar uma das mais importantes figuras do teatro do século XX, começa a escrever seus primeiros poemas e cedo se rebela contra os "falsos padrões" da arte e da vida burguesa, corroídas pela Primeira Guerra. Tal atitude se reflete já na sua primeira peça, o drama expressionista "Baal", de 1918. Colabora com os diretores Max Reinhardt e Erwin Piscator. Recebe, no fim dos anos 20, instruções marxistas do filósofo Karl Korsch. Em 1928, faz com Kurt Weill a "Ópera dos Três Vinténs". Com a ascensão de Hitler, deixa o país em 1933, e exila-se em países como a Dinamarca e Estados Unidos da América, onde sobrevive à custa de trabalhos para Hollywood. Faz da crítica ao nazismo e à guerra tema de obras como "Mãe coragem e seus filhos" (1939). Vítima da patrulha macartista, parte em 1947 para a Suíça — onde redige o "Pequeno Organon", suma de sua teoria teatral. Volta à Alemanha em 1948, onde funda, no ano seguinte, a companhia Berliner Ensemble. Morre em Berlim, em 1956.



Precisamos De Você.

Aprende - lê nos olhos,
lê nos olhos - aprende
a ler jornais, aprende:
a verdade pensa
com tua cabeça.

Faça perguntas sem medo
não te convenças sozinho
mas vejas com teus olhos.
Se não descobriu por si
na verdade não descobriu.

Confere tudo ponto
por ponto - afinal
você faz parte de tudo,
também vai no barco,
"aí pagar o pato, vai
pegar no leme um dia.

Aponte o dedo, pergunta
que é isso? Como foi
parar aí? Por que?
Você faz parte de tudo.

Aprende, não perde nada
das discussões, do silêncio.
Esteja sempre aprendendo
por nós e por você.

Você não será ouvinte
diante da discussão,
não será cogumelo
de sombras e bastidores,
não será cenário
para nossa ação

...




                                   Se os Tubarões Fossem Homens






Bertold Brecht
Se os tubarões fossem homens, eles seriam mais gentís com os peixes pequenos. Se os tubarões fossem homens, eles fariam construir resistentes caixas do mar, para os peixes pequenos com todos os tipos de alimentos dentro, tanto vegetais, quanto animais. Eles cuidariam para que as caixas tivessem água sempre renovada e adotariam todas as providências sanitárias cabíveis se por exemplo um peixinho ferisse a barbatana, imediatamente ele faria uma atadura a fim de que não moressem antes do tempo. Para que os peixinhos não ficassem tristonhos, eles dariam cá e lá uma festa aquática, pois os peixes alegres tem gosto melhor que os tristonhos.
Naturalmente também haveria escolas nas grandes caixas, nessas aulas os peixinhos aprenderiam como nadar para a guela dos tubarões. Eles aprenderiam, por exemplo a usar a geografia, a fim de encontrar os grandes tubarões, deitados preguiçosamente por aí. Aula principal seria naturalmente a formação moral dos peixinhos. Eles seriam ensinados de que o ato mais grandioso e mais belo é o sacrifício alegre de um peixinho, e que todos eles deveriam acreditar nos tubarões, sobretudo quando esses dizem que velam pelo belo futuro dos peixinhos. Se encucaria nos peixinhos que esse futuro só estaria garantido se aprendessem a obediência. Antes de tudo os peixinhos deveriam guardar-se antes de qualquer inclinação baixa, materialista, egoísta e marxista. E denunciaria imediatamente os tubarões se qualquer deles manifestasse essas inclinações.Se os tubarões fossem homens, eles naturalmente fariam guerra entre si a fim de conquistar caixas de peixes e peixinhos estrangeiros.As guerras seriam conduzidas pelos seus próprios peixinhos. Eles ensinariam os peixinhos que, entre os peixinhos e outros tubarões existem gigantescas diferenças. Eles anunciariam que os peixinhos são reconhecidamente mudos e calam nas mais diferentes línguas, sendo assim impossível que entendam um ao outro. Cada peixinho que na guerra matasse alguns peixinhos inimigos da outra língua silenciosos, seria condecorado com uma pequena ordem das algas e receberia o título de herói.Se os tubarões fossem homens, haveria entre eles naturalmente também uma arte, haveria belos quadros, nos quais os dentes dos tubarões seriam pintados em vistosas cores e suas guelas seriam representadas como inocentes parques de recreio, nas quais se poderia brincar magnificamente. Os teatros do fundo do mar mostrariam como os valorosos peixinhos nadam entusiasmados para as guelas dos tubarões.A música seria tão bela, tão bela, que os peixinhos sob seus acordes e a orquestra na frente, entrariam em massa para as guelas dos tubarões sonhadores e possuídos pelos mais agradáveis pensamentos. Também haveria uma religião ali.Se os tubarões fossem homens, eles ensinariam essa religião. E só na barriga dos tubarões é que começaria verdadeiramente a vida. Ademais, se os tubarões fossem homens, também acabaria a igualdade que hoje existe entre os peixinhos, alguns deles obteriam cargos e seriam postos acima dos outros. Os que fossem um pouquinho maiores poderiam inclusive comer os menores, isso só seria agradável aos tubarões, pois eles mesmos obteriam assim mais constantemente maiores bocados para devorar. E os peixinhos maiores que deteriam os cargos valeriam pela ordem entre os peixinhos para que estes chegassem a ser, professores, oficiais, engenheiros da construção de caixas e assim por diante. Curto e grosso, só então haveria civilização no mar, se os tubarões fossem homens.
***



Perguntas De Um Operário Que Lê.



Perguntas De Um Operário Que Lê.

Quem construiu Tebas, a das sete portas?
Nos livros vem o nome dos reis,
Mas foram os reis que transportaram as pedras?
Babilònia, tantas vezes destruida,
Quem outras tantas a reconstruiu? Em que casas
Da Lima Dourada moravam seus obreiros?
No dia em que ficou pronta a Muralha da China para onde
Foram os seus pedreiros? A grande Roma
Está cheia de arcos de triunfo. Quem os ergueu? Sobre quem
Triunfaram os Césares? A tão cantada Bizâncio
Sò tinha palácios
Para os seus habitantes? Até a legendária Atlântida
Na noite em que o mar a engoliu
Viu afogados gritar por seus escravos.

O jovem Alexandre conquistou as Indias
Sòzinho?
César venceu os gauleses.
Nem sequer tinha um cozinheiro ao seu serviço?
Quando a sua armada se afundou Filipe de Espanha
Chorou. E ninguém mais?
Frederico II ganhou a guerra dos sete anos
Quem mais a ganhou?

Em cada página uma vitòria.
Quem cozinhava os festins?
Em cada década um grande homem.
Quem pagava as despesas?

Tantas histórias
Quantas perguntas

Privatizado

"Privatizaram sua vida, seu trabalho, sua hora de amar e seu direito de pensar. 
É da empresa privada o seu passo em frente, 
seu pão e seu salário. E agora não contente querem 
privatizar o conhecimento, a sabedoria, 
o pensamento, que só à humanidade pertence."

...


O Analfabeto Político

"O pior analfabeto é o analfabeto político. 
Ele não ouve, não fala, nem participa dos acontecimentos políticos. 
Ele não sabe que o custo de vida, o preço do feijão, 
do peixe, da farinha, do aluguel, do sapato e do remédio 
dependem das decisões políticas. 
O analfabeto político é tão burro que se orgulha e estufa o peito dizendo 
que odeia 
a política. Não sabe o imbecil que da sua ignorância
 política nasce a prostituta, 
o menor abandonado, e o pior de todos os bandidos 
que é o político vigarista, 
pilantra, o corrupto e lacaio dos exploradores do povo." 
Nada é impossível de Mudar
"Desconfiai do mais trivial, na aparência singelo. 
E examinai, sobretudo, o que parece habitual. 
Suplicamos expressamente: não aceiteis o que é de 
hábito como coisa natural, pois em tempo de desordem 
sangrenta, de confusão organizada, de arbitrariedade consciente, 
de humanidade desumanizada, nada deve parecer natural 
nada deve parecer impossível de mudar."

A Canção Bhagavad Gita




BHAGAVAD GITA- A CANÇÃO DIVINA DE DEUS.

A Canção de Deus


A Bhagavad-Gita é uma obra teosófica de origem hindu, escrita originalmente em Sânscrito, há 5000 anos, de conteúdo puramente espiritual.

A expressão sânscrita Bhagavad-Gita significa Canção Divina, ou melhor, a Voz de Deus. Ao longo de seus 700 versos, é transcrito um diálogo entre Deus e o homem, como se Ele estivesse pessoalmente nos ensinando o passo-a-passo para nos reintegramos a nossa Origem Divina.

Apesar de seu conteúdo transcendental, a Bhagavad-Gita não se vincula diretamente a religião alguma e é plenamente aplicável a nossa vida cotidiana.


BHAGAVAD GITA- A CANÇÃO DIVINA DE DEUS.
as vidas diária...








O Bhagavad-Gita.

Também referido como Sublime Canção, Canção do Senhor ou a Mensagem do Mestre é um dos pilares da literatura sagrada mundial. Neste Livro, Krishna, que viveu na Índia antiga há mais de 5.000 anos, apresenta uma mensagem de amor, fé e esperança. Reverenciado por budistas, hindus e brâmanes, é também, por excelência, o livro autoritativo da religião hindu. Sua filosofia é um episódio da antiga epopéia hindu, chamada Mahâbhârata (Maha = grande, Bhârata = Índia), que compreende 250 mil versículos, descrevendo a grande guerra entre os Kurus e os Pândavas. A batalha tem início quando Brishma, comandante dos Kurus, deu o sinal, tocando a sua corneta ou concha e logo respondido pelos Pandâvas. Arjuna pede então a Krishna no princípio da batalha que deixasse parar o carro no meio do espaço entre os dois exércitos e eis que vê de perto seus parentes e amigos, em ambos os lados, ficando horrorizado por constatar que tratava-se de uma guerra fraticida, dizendo a Krishna que preferia morrer inerme e sem se defender, do que matar seus parentes. A resposta de Krishna é um comovente discurso filosófico, que forma a maior parte do Bhagavad Gita. Escrito na melhor tradição dos livros sagrados, a luta aqui relatada não é outra que a luta travada no espírito humano do Bem contra o Mal. A supremacia do espírito sobre o egoísmo, paixões e prazeres mundanos. Sua leitura nos leva a diversos níveis de compreensão de verdades místicas e esotéricas.
Diz-nos Krishna:
Eu sou a Origem de tudo. O universo inteiro de Mim emana.
Os sábios, que são Minha imagem e semelhança, conhecendo esta verdade, dirigem-se a Mim com adoração.
O Homem real, o Espírito, não pode ser ferido por armas, nem queimado pelo fogo; a água não o molha, o vento não o seca nem move.
Quem conhece a verdade de que o Homem real é eterno, indestrutível, superior ao tempo, à mudança e aos acidentes, não pode cometer a estultice de pensar que pode matar ou ser morto. Sabei que o Ser Absoluto, de que todo o Universo tem o seu princípio, está em tudo, e é indestrutível. Ninguém pode causar a destruição desse Imperecível. Todo o ser e toda coisa são o produto de uma infinitésima porção do Meu poder e da Minha glória. Quem tudo faz em Meu nome; quem Me reconhece como o alvo de todos os seus mais nobres esforços; quem Me adora, livre de apegos e sem odiar a ninguém, esse chegará a Mim. É também uma canção apaixonada do Criador por Sua criação, abrindo-lhe imensas veredas para seu progresso no mundo do espírito. Milhões de seres humanos continuam se deleitando com a profundidade deste Canto e nele, seguem encontrando as energias interiores que podem revitalizar sua vida e aperfeiçoar seu caráter.

Por que te preocupas sem motivo?
A quem temes, sem razão?
Quem poderia te matar?
A alma não nasce, nem morre.

Qualquer coisa que aconteça,
Acontecerá para seu bem;
O que está acontecendo,
Está acontecendo para o seu bem;
O que vai acontecer,
Também acontecerá para o bem.

Não deves lamentar pelo passado.
Não deves te preocupar com o futuro.
O presente está acontecendo ...
Que perda te faz chorar?

Que trouxestes contigo,
E que achas que perdeste?
O que produzistes,
O que achas que foi destruído?

Não destes nada,
Não trouxestes nada contigo,
qualquer coisa que possuas, recebestes aqui.

Qualquer coisa que tomastes, foi tomada de Deus.
Tudo o que seja que tenham te dado, Ele te deu
Chegastes de mãos vazias,
E voltaras de mãos vazias.

Tudo que tens hoje,
pertencia a outra pessoa ontem, e pertencerá a outra no dia de amanhã.
Erradamente desfrutastes da idéia
que isso te pertence.

É esta falsa felicidade
a causa de seus sofrimentos.

A mudança é a lei do universo.
O que tu consideras como morte,
É, na realidade, a vida.

Em qualquer momento tu podes
ser um milionário
e, no seguinte, podes
cair em pobreza.

Teus e meus, grandes e pequenos
Apagues essas idéias de tua mente.
Então, tudo te pertencerá e
todos serão donos.
Esse corpo te pertence,
Também tu não és desse corpo.

O corpo é feito de fogo, água, ar, terra e éter,
E retornará pára esses elementos.
Mas a alma é permanente - então quem és tu?
Dediques teu ser a Deus.
Ele é o único em quem se deve confiar.
Aqueles que conhecem esta verdade são para sempre
livres do medo, preocupação e dor.

Aconteça o que acontecer,
Faças como uma oferta a Deus.
Isso te levará
A experimentar da
alegria, da liberdade e da vida para sempre.

(Tradução Wilmar)


BHAGAVAD GITA- A CANÇÃO DIVINA DE DEUS.
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Imagem pesquisada na web, havendo direitos autorais, favor nos avisar para darmos os devidos créditos.



O Bhagavad-gita




Quando o guerreiro Arjuna está quase se empenhando em batalha final contra seus inimigos, os Kauravas, é tomado pelo mêdo à possibilidade de ter de derramar sangue. Consulta então seu companheiro no carro de guerra, que é Krishna e êste lhe retira a hesitação - Arjuna deve Cumprir seu dever como guerreiro. Além disso, diz-lhe Krishna, a vida e a morte são de pouco valor quando comparadas aos valôres eternos. É assim que começa o poema famoso, A Canção Celestial.
Revelando-se gradualmente a Arjuna como sendo o Ser Supremo, Krishna ensina a ação sem desejo, que leva o ser huma-no à Libertação.



Talvez êsse poema estivesse ligado ao Épico, o Maha-Bha-rata, sendo de data indefinida, talvez contemporâneo ao início da era cristã. O Bhagavad-gita foi corretamente chamado o




Evangelho do Krishnaísmo.





I. O Sábio Diante da Morte


Krishna Censura e Exorta à Bravura

Disse o recitador:
A Arjuna, dominado pela piedade, cujos olhos estavam cheios de
lágrimas e se mostrava perturbado e muito deprimido, Krishna falou.
O Senhor Bendito disse:
De onde te veio esse abatimento de espírito nesta hora de crise?
Ele é desconhecido dos homens de mente nobre, não leva ao céu, e
sôbre a terra causa desgraça, Ó Arjuna.
Não cedas a essa fraqueza, Ó Arjuna, pois ela não condiz contigo.
Lança fora essa debilidade do coração e desperta, Ó Opressor dos
inimigos.



As Dúvidas de Arjuna o Atormentam

Disse Arjuna:
Como poderei abater Bhisma e Drona que merecem adoração, Ó
Krishna, com minhas setas na batalha, Ó Chacinador de inimigos?
É melhor viver neste mundo pedindo esmolas do que matar esses
mestres meritórios. Embora eles cuidem de seus ganhos, são meus
mestres, e matando-os eu apenas desfrutaria neste mundo prazeres sal-
picados de sangue.
Nem tampouco sabemos o que é melhor para nós, vencê-los ou
sermos vencidos por eles. Os filhos de Dhritarastra, que se matarmos
não teremos prazer em viver, estão diante de nós em formação de
batalha.
O meu próprio ser está tomado pela fraqueza da piedade. Com

meu espírito confuso sobre o meu dever, peço-te que me digas o que

é melhor. Sou teu discípulo; ensina a mim, que busco refúgio em ti.
Não vejo o que expulsará esta tristeza que resseca meus sentidos,
mesmo que venha a conseguir um reinado rico e sem rival sobre a
terra ou mesmo a soberania dos deuses.
Disse o recitador:
Tendo se dirigido assim à Krishna, o poderoso Arjuna lhe disse
ainda: "Não lutarei” e silenciou.
Àquele que se achava deprimido assim em meio a dois exércitos,
Ó Bharata, Krishna falou sorrindo.

Não Nos Devemos Lamentar Pelo Imperecível.

O Senhor Bendito disse:
Tu lamentas aqueles que não deverias lamentar, e no entanto
dizes palavras sobre a sabedoria. Os homens sábios não se lamentam
pelos mortos ou pelos vivos.
Nunca houve uma época em que eu não existisse, ou tu, ou esses
senhores dos homens, nem tampouco virá uma época no futuro em que
deixaremos de existir.
Assim como a alma vem ter a este corpo através da infância, mo-
cidade e madureza, do mesmo modo ela toma outro corpo. O sábio
não fica perplexo com isso.
Os contatos com seus objetos, Ó filho de Kunti, dão origem ao
calor e frio, prazer e dor.
Eles vêm e vão e não duram para sempre, aprendem a resistir,
Ó Arjuna.
Ó homem que não se perturba com isso, Ó Chefe de homens, que
continua o mesmo na dor e no prazer e é sábio, torna se capacitado
para a vida eterna.
Do não-existente não há vir-a-ser; do existente não há deixar de ser.
A conclusão para os dois casos já foi percebida pelos que buscam
a verdade.

Sabes tu que aquilo pelo qual tudo se acha impregnado é indes-
trutível. Desse ser imutável ninguém pode causar a destruição.
Diz-se que esses corpos da alma eterna que é indestrutível e in-
compreensível chegam a um fim. Por isso, luta, Ó Arjuna.
Aquele que pensa que isto mata, e aquilo é morto, deixa de
perceber a verdade, pois nem se mata nem se é morto.
Ele nunca nasce, nem tampouco morre em qualquer ocasião, nem
ainda tendo passado a ser uma vez, cessa de ser. Ele não nasce, é
eterno, permanente e primevo. Ele não é morto quando o corpo é
abatido.
Quem sabe ser ele indestrutível e eterno, incriado e imutável, como
poderá abater alguém, Ó Arjuna, ou fazer alguém abater outrem?
Assim como uma pessoa deita fora roupas usadas e põe outras
novas, a alma deita fora corpos usados e toma outros que são novos.
As armas não ferem esse eu, o fogo não o queima, as águas não
o molham, nem o vento o faz secar.
Ele é indivisível, Ele não pode ser queimado, nem tampouco mo-
lhado ou secado. Ele é eterno, presente em tudo, imutável e imóvel.
Ele é o mesmo para sempre.
Diz-se que é imanifesto, inimaginável e imutável. Portanto, ca-
nhecendo-o como tal, tu não deves lamentar.

Não Nos Devemos Lamentar Pelo Perecível

Mesmo que tu penses que o eu nasce e morre perpetuamente, ain-
da assim, Ó Poderoso, não deves lamentar.

Pois para quem nasce, a morte é certa e certo é o nascimento para
quem morreu. Pelo que é inevitável, portanto, não te deves lamentar.
Os seres são imanifestos em seus inícios, manifestos no meio e
novamente imanifestos em seus fins. Ó Arjuna, que existe nisto para
lamentar?
Há quem O veja como uma maravilha, outro fala d'Ele como uma
maravilha, outro ouve falar d'Ele como uma maravilha, e mesmo de-
pois de ouvir, ninguém O conheceu.
O morador no corpo de todos, Ó Arjuna, é eterno e jamais pode
ser morto; portanto, não te deves lamentar por criatura alguma.

As Características do Sábio Perfeito

Disse Arjuna:
Qual é a descrição do homem que possui essa sabedoria firme-
mente fundada, cujo ser é firme em espírito, Ó Krishna? Como fala
o homem de inteligência estabelecida, como se senta, como anda?
O Senhor Bendito disse:
Quando um homem põe de lado todos os desejos de sua mente, Ó
Arjuna, e quando seu espírito está contente em si próprio, então se chama
estável em inteligência.
Aquele cuja mente não se perturba em meio às tristezas e está
livre do desejo ansioso entre prazeres, aquele de quem a paixão, medo
e raiva se afastaram, a êste se chama um sábio de inteligência es-
tabelecida.
Aquele que não tem afeição em qualquer lado, que não se reju-
bila ou detesta ao ter o bem ou o mal, tem uma inteligência firme-
mente estabelecida na sabedoria.
Aquele que retira os sentidos dos objetos do sentido em todos os
lados, assim como uma tartaruga recolhe seus membros ao casco, tem
uma inteligência firmemente estabelecida na sabedoria.
Os objetos do sentido se afastam da alma corporificada que se
abstém de alimentar-se dêles, mas o gosto por eles continua. Até
mesmo o gosto se afasta quando o Supremo é visto.
Embora um homem possa esforçar-se pela perfeição e mostrar-se
dono de discernimento, Ó Filho de Kunti, seus sentidos impetuosos ar-
rastarão sua mente à força.
Tendo posto todos os sentidos sob controle, ele deve permanecer
firme no intento Yoga em Mim, pois aquele cujos sentidos se acham
sob controle teia uma inteligência firmemente estabelecida.
Quando, em sua mente, um homem presta atenção aos objetos do
sentido, produz-se sua ligação aos mesmos.
Dessa ligação surge o desejo, e do desejo vem a raiva.
Da raiva nasce a confusão, e desta a perda de memória; dessa
perda de memória vem a destruição da inteligência e desta ele perece.
Um homem de mente disciplinada, no entanto, que se move entre
os objetos de sentido com os sentidos sob controle e livre de ligação
e aversão, atinge a pureza de espírito.
E nessa pureza de espírito produz-se para ele um fim de toda
tristeza; a inteligência de um homem de espírito puro assim logo se
estabelece na paz do eu.
Não existe inteligência para os incontrolados, nem tampouco para
os incontrolados existe o poder de concentração, enquanto para aquele
que não tem concentração não há paz, e como pode haver felicidade
para quem não tem paz?
Quando a mente persegue .os sentidos nômades, leva consigo a
compreensão, assim como o vento impele um navio sobre as águas.
Aquele cujos sentidos estejam retirados de seus objetos, portanto,
Ó Poderoso, tem sua inteligência firmemente estabelecida.

O que é noite para todos os seres é o momento de despertar para
a alma disciplinada, e o que é momento de despertar para todos os
seres é a noite para o sábio que vê.
Aquele em quem todos os desejos entram como águas no mar e
que, embora sendo sempre enchido, está sempre em movimento, atin-
ge a paz e não Aquele que se abraça a seus desejos.
Aquele que abandona todos os desejos e age livremente da sau-
dade ou desejo, sem qualquer sentido de propriedade egoísta ou egoís-
mo, atinge a paz.
Esse é o estado divino, Ó Arjuna, onde tendo chegado não há
mais confusão e fixo nesse estado, na hora da morte, pode-se alcan-
çar a ventura de Deus. (11)
(2 . 1-30, 54-72 )

2. Krishna Se Manifesta em Sua Glória

Com muitas bocas e olhos,
Muitos aspectos prodigiosos,
Muitos ornamentos maravilhosos,
Com armas maravilhosas e erguidas;

Trajando grinaldas e roupas maravilhosas,
Com perfumes e ungüentos maravilhosos,
Feito de todas as maravilhas, o deus,
Infinito, com faces em todas as direções.

De mil sóis no céu,
Se, repentinamente irrompesse
A luz, seria como
A luz daquele celebrado.

Arjuna disse:
Vejo os deuses em teu corpo, ó Deus,
Todos, e as hostes de diversos tipos de seres também,
O Senhor Brama sentado no assento de lótus,
E os videntes todos, e as serpentes divinas.

Com muitos braços, barrigas, bocas e olhos,
Vejo-Te, infinito em forma de todos os lados;
Nenhum fim, ou meio, ou mesmo início de Ti
Eu posso ver, Ó Todo-Deus, Todo-formado!
Com diadema, bastão e disco,
Massa de radiação, brilhando em todos os lados,
Eu Te vejo, com dificuldade, em todos os lados
Com a glória do fogo e sol brilhante, imenso.

Tu és o Imperecível, o supremo Objeto de Conhecimento;
Tu és o lugar final de descanso deste universo;
Tu és o guardião imortal do direito eterno,
Tu és o Espírito sempiterno, eu afirmo.

Sem início, meio ou fim, de poder infinito,
De braços infinitos, olhos que são a lua e o sol,
Eu Te vejo, com face que é fogo radiante,
Queimando todo este universo com Tua radiação.

Pois esta região entre céu e terra
Esta impregnada por Ti apenas, em todas as direções;
Vendo esta Tua forma prodigiosa e terrível,
Treme o mundo triplo, Ó celebrado!

Homenagem a Ti vinda da frente e de trás,
Homenagem a Ti vinda de todos os lados, Tu que és Tudo!
Ó Tu de poder infinito, Tua bravura não se mede;
Tu atinges tudo, portanto és Tudo!

Tu és o pai do mundo de coisas que se movem e não se movem,
E Tu és seu Guru reverenciado e mais venerável;
Não há outro como Tu - como haveria então um maior? -
Mesmo nos três mundos, Ó Tu de grandeza sem par!

Inclinando-me e prostrando meu corpo, portanto,
Peço-Te graça, o Senhor a ser reverenciado:
Como um pai a seu filho, um amigo e seu amigo,
Um amante a seu amado, mostra misericórdia, Ó Deus!

Tendo visto o que nunca'antes foi visto, estou emocionado,
E ao mesmo tempo meu coração treme de medo;
Mostra"me, Ó Deus, aquela mesma forma Tua de antes!
Sé misericordioso, senhor dos Deuses, Morada do Mundo!

Usando o diadema, empunhando o bastão e com o disco na mão,
É assim que Te desejo ver como antes;
Naquela mesma forma de quatro braços
Apresenta-te, Ó dono de mil braços, de forma universal!
O Abençoado disse:

Esta forma bem difícil de ver,
E que viste de Mim,
Até mesmo os deuses
Desejam ver constantemente.

Nem pelos Vedas, ou pela austeridade,
Nem por presentes ou atos de adoração
Posso ser visto em tal apresentação,
Como aquela em que me viste.

Mas pela devoção completa posso
Eu, em tal apresentação, Arjuna,
Ser conhecido e visto na verdade,
E penetrado, arrasador do inimigo.

Executando Meu trabalho, atento a Mim,
Devotado a Mim, livre de ligações,
Livre da inimizade a todos os seres,
Quem assim estiver, virá a Mim, filho de Pandu.(12)
(11,10-12, 15-20, 40, 43-46, 52-55)

3. O Iogue Perfeito

Quando o pensamento, controlado,
Se estabelece no Eu apenas,
O homem livre de todos os desejos
Chama-se então disciplinado.

Como lâmpada colocada em lugar sem vento
Não tremula, esta imagem se grava
Do homem disciplinado controlado em pensamento,
Praticando a disciplina do Eu. .

Quando o pensamento entra em descanso,
Detido pela prática da disciplina,
E quando Eu pelo eu
Contemplando, ele encontra satisfação no Eu;

Aquela ventura superna que
Deve ser apreendida pela consciência e se acha além dos
sentidos,
Quando ele conhece isto, e de modo algum
Se desvia da verdade, morando sempre nela;
E que tendo ganho, outro ganho
Ele não tem como maior do que ela;
Em que estabelecido, por miséria alguma,
Por mais lamentável, ele é tocado:

Esse estado, que ele saiba, - da conjunção com a miséria
A disjunção, - é conhecido como disciplina;
Com determinação deve ser praticada
Esta disciplina, com coração sem desânimo.

Os desejos surgidos dos propósitos
Abandonando, tudo sem deixar traços,
Com o órgão do pensamento apenas a pulsação dos sentidos
Restringindo de todo,

Pouco a pouco que entre em descanso
Através da consciência, mantida firmemente;
Mantendo o órgão do pensamento fixo no Eu,
Em mais nada ele deve pensar.

Sempre que qualquer coisa desvie
O órgão do pensamento, inconstante e instável,
De qualquer coisa assim que o impeça,
Ele a trará para o controle no Eu apenas.

Para quem o órgão do pensamento estiver tranqüilo,
Ao disciplinado, ventura suprema
Se achega, sua paixão acalmada,
Se identificam a Brahman, sem jaça.

Disciplinando-se assim sempre,
O homem disciplinado, livre de jaça,
Para entrar facilmente em contato com Brahman
E atingir a ventura suprema, se esforça.

A si próprio como em todos os seres,
E todos os seres em si próprio,
Vê Aquele cujo Eu é disciplinado na disciplina,
Que vê o mesmo em todas as coisas.

Quem vê a Mim em tudo,
E vê tudo em Mim,
Para esse não estou perdido,
E não está perdido para Mim.
A Mim como estando em todos os seres que
Reverencia, adotando a crença na unidade,
A morada em qualquer condição possível,
Esse homem disciplinado mora em Mim.

Por comparação consigo próprio, em todos os seres
Que vê o mesmo, Arjuna,
Seja prazer ou seja dor,
Esse é considerado o homem disciplinado supremo. (12)
(Ibid., 6. 18-32 )

4. Esforça-te Pela Sabedoria

Falta de medo, unidade de alma, a vontade
Sempre de lutar pela sabedoria; mão aberta
E apetites controlados; e piedade
E amor pelo estudo solitário; humildade,
Correção, cuidado em ferir nada que vive,
Veracidade, lentidão na raiva, uma mente
Que deixa ir facilmente o que outros prezam;
E equanimidade, e caridade
Que não busca a falta de homem algum; e ternura
Para quem sofre; um coração contente,
Oscilando por desejo algum; mente tolerante,
Modesto e sério, masculinidade nobremente misturada
À paciência, fortaleza e pureza;
Um espírito sem vingança, jamais inclinado
A se situar alto demais; - sejam estes os sinais,
Ó Príncipe Indiano, daquele cujos pés estão firmes
Naquela trilha que leva ao nascimento celestial!

A falsidade e arrogância, o orgulho,
Facilidade no enraivecer, fala bruta e má,
E ignorância, cega à sua própria treva, -
Sejam estes os sinais, Meu Príncipe, daquele cujo nascimento
Está fadado às regiões do desprezível. (13)


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